Neste
mês de julho de 2016, o Café Científico Salvador trata de um tema candente do
mundo contemporâneo, a medicalização da vida, a transformação de experiências
humanas comuns (como o luto ou a desatenção) em transtornos ou doenças.
O QUE?
Medicalização
da vida: quando nossas experiências são transformadas em transtornos
QUANDO?
18 de
Julho de 2016 (Segunda-Feira)
A QUE HORAS?
18:30
HORAS
ONDE?
Sala
de Projeção Luís Orlando, Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Biblioteca Dos
Barris), Rua General Labatut, 27, Barris, Salvador-Ba
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Medicalização da vida:
Quando nossas experiências são transformadas em transtornos
Tiago
Alfredo da Silva Ferreira
Instituto
de Psicologia/UFBA
A medicalização da vida é caracterizada por um processo de
transformação de experiências humanas comuns (e.g., luto, desatenção e
ansiedade), em transtornos ou doenças (e.g., Depressão, Transtorno do Déficit
de Atenção com Hiperatividade e Transtorno de Ansiedade Generalizada)
(BRZOZOWSKI & CAPONI, 2013). Esse processo é consonante com a expansão do
poder biomédico (LEMOS, 2014), bem como com a Medicina e a indústria
farmacêutica como agências de controle social, influenciando o desenvolvimento
da vida dos sujeitos em diversos ambientes com os quais interagem, como a
escola, a família e o trabalho. A presente comunicação não possui por objetivo
julgar se determinados problemas particulares podem ser “realmente” problemas
médicos, mas objetiva examinar as principais implicações da expansão da
medicalização da vida no ensino das ciências da saúde.
O fenômeno da medicalização mobiliza diversas áreas do
conhecimento, tais como Medicina, Biologia, Sociologia e Psicologia. Em
especial, há influência das práticas de medicalização no modo como os
estudantes das áreas de saúde aprendem a tratar de questões relativas à
experiência de sofrimento subjetivo e no modo como elaboram propostas para
resolução destes problemas. Segundo Timimi (2010), apesar de a cultura
ocidental dispor de métodos psicoterápicos (e.g. terapia familiar; terapia cognitivo-comportamental;
terapia psicodinâmica) e farmacêuticos para lidar com tais questões, o ensino
desses métodos se apresenta por uma abordagem que enfatiza a reprodutibilidade
técnica de acordo com manuais de classificação, isto é, enfatiza-se o aprimoramento
de técnicas para elaboração de diagnósticos muito mais do que reflexões (como
as éticas) sobre a sua necessidade e das subsequentes receitas de medicamentos.
A partir do referencial da Relational
Frame Theory (RFT), esta comunicação propõe que as ciências da saúde,
quando envoltas em práticas de medicalização da vida, estão diretamente
vinculadas ao fortalecimento de processos avessos à saúde e qualidade de vida
(e.g. esquiva experiencial), aumentando o sofrimento humano enquanto, paradoxalmente,
tenta reduzi-lo (HAYES, 1999). Em outras palavras, as ciências da saúde podem
estar gerando os problemas que procuram combater quando, a partir de processos
educacionais, preparam profissionais para considerar como transtornos médicos
determinadas experiências humanas comuns. Para fundamentação desta proposta,
esta comunicação envolverá (a) uma definição do processo de medicalização da
vida, (b) uma breve exposição da RFT enquanto teoria explicativa das
consequências subjetivas da medicalização e (c) uma reflexão acerca das
implicações desta discussão para o ensino de ciências da saúde.
PARA SABER MAIS:
BRZOZOWSKI, F. S.; CAPONI, S. N. C. Medicalização dos Desvios de
Comportamento na Infância: Aspectos Positivos e Negativos. Psicologia: Ciência
e Profissão, Brasília , v.33, n.1, p.208-221, 2013.
HAYES, S. et al. Acceptance and
Commitment Therapy: een derde-generatie gedragstherapie. Gedragstherapie,
v.2, p.69-96, 2003.
LEMOS, F. C. S. A medicalização da educação e da resistência no
presente: disciplina, biopolítica e segurança. Rev. Quadr. Assoc. Bras. Psi.
Esc. Edu. São Paulo, v.18, n.3, p.485-492, Dez. 2014.
TIMIMI, S. The McDonaldization of
childhood: children's mental health in neo-liberal market cultures. Transcultural
Psychiatry, v.47, n.5, p.686-706. 2010. Disponível em
. Acesso em 31 mar. 2015.