Wednesday, March 07, 2007

Para Saber Mais - apresentação 12/03

é possivel saber mais sobre o tema, “Cosmovisões indígenas: novos olhares sobre a natureza e a cultura”, nos livros recomendados abaixo:

Ellen, R. F. 1996. The cognitive geometry of nature: a contextual approach. In Descola, Ph. e Pálsson, Gísli, orgs. Nature and Society. Anthropological perspectives. Londres: Routledge

Descola, P. 1996. Constructing natures: symbolic ecology and social practice. In Descola, Ph. e Pálsson, Gísli, orgs. Nature and Society. Anthropological perspectives. Londres: Routledge

Lenoble, R. 1990. História da Idéia de Natureza. Lisboa: Ed. 70.

Gusdorf, G. 1985. Le Savoir Romantique de la Nature. Paris, Payot.

Nichols, A. 2004. Romanticism & Ecology. The Loves of Plants and Animals: Romantic Science and the Pleasures of Nature. Romantic Circles Praxis Series (Ed.: Wang, Orrin), University of Maryland.

Bateson, G. 1980. Mind and Nature. A necessary Unity: Fontan/Collins.

Ingold, T. 2000. The Perception of the Enviroment. essays on livelihood, dwelling and skill, Londres: Routledge Cap. 1 - Culture, Nature, environment. Steps to an ecology of life.

Thomas, K. 1988 [1983]. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e os animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras. 454 pp.

Schama, S. 1995. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras. 627 pp.

Viveiros de Castro, E. 2002. A inconstância da alma selvagem - e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. 552 pp.

Lévi-Strauss, C. 1970. O pensamento selvagem. Rio de Janeiro: Cia Editora Nacional.

Atran, S. 1993. Cognitive Foundations of Natural History. Towards an anthropology of Science. Paris / Cambridge, MSH/Cambridge Univ. Press.

Descola, P. 1986. La Nature Domestique: Symbolisme et praxis dans l' écologie des Achuar. Paris: Ed. MSH; ou a versão em inglês: Descola, Philippe 1996. In the society of nature: a native ecology in Amazonia, Cambridge: Cambridge University Press.

Serra, O. 2006. Um tumulto de asas: apocalipse no Xingu. Breve estudo de mitologia Kamayurá. EDUFBA. Salvador. 212 pp.
Resumo da apresentação do dia 12/03

“Cosmovisões indígenas: novos olhares sobre a natureza e a cultura”

Por Fábio Pedro de Souza Ferreira Bandeira do Departamento de Biologia da UEFS


A oposição entre natureza e cultura é fundadora de uma tradição intelectual que marca profundamente o pensamento moderno, já nos indicava o historiador Keith Thomas em seu livro “O homem e o mundo natural”. Ela alimenta o chamado “mito da natureza intocada” que alicerça o paradigma dominante da corrente mais ortodoxa da biologia da conservação, aquele que rejeita um modelo de preservação onde a sociedade esteja incluída como um dos elementos dos ecossistemas.

O pensamento moderno trata a natureza separada da cultura e designa prioridade ontológica para a primeira. Para Peter Dwyer, antropólogo australiano, isto é análogo à separação do organismo do ambiente que caracteriza a biologia. A verdade pode ser que a idéia de selvagem, que supõe o último refúgio da natureza, não é mais do que uma tentativa de representar um lugar imaginário como um símbolo concreto. Segundo Dwyer, ´Natureza´ como conhecem os ocidentais é uma invenção, um artefato. Para ele, prova disso é que se por um lado natureza e cultura são opostas como categorias discretas, por outro, elas aparecem como momentos num continuum que pode ser de desenvolvimento ou evolutivo. O paradoxo é bem conhecido; ele se refere à tensão entre produto e processo, entre entidade e relação. Não haveria outras possibilidades epistemológicas? A mente “selvagem” nos convida a essa reflexão.

Nessa palestra vamos explorar, tangencialmente, o esboço do que poderia ser a cosmovisão de um povo indígena da caatinga, os Pankararé, com quem aprendemos a ver o Raso da Catarina com outros olhares; não como um ambiente inóspito, de paisagem monótona e morfologia plana, mas como um lugar povoado de nomes, seres encantados, habitado por signos e seres diversos, monumentos; não uma natureza intocada mas transformada e totalmente mapeada. Ai se forja uma etnicidade, uma diferenciação dos não-índios, sertanejos bem parecidos com eles nas roupas, nos rostos, no modo de produção, nos costumes alimentares; isto porque no pensamento Pankararé não há cultura sem natureza nem natureza sem cultura, não há uma linha divisória definida, ai talvez esteja a diferenciação, a construção de sua própria identidade.

Como veremos, as cosmovisões indígenas não trazem em seu bojo esta antinomia, natureza/cultura. Elas lançam outros olhares, como bem exemplificam os Pankararé, e com isso estabelecem tanto no plano simbólico quanto no material uma série de inter-relações entre o que o pensamento moderno separa, fragmenta, institui como definitivo e real. Explorar tais cosmovisões e buscar entendê-las não é apenas um exercício de etnografia minucioso e imprevisível, isto pode nos levar a reformular, ou pelo menos refletir sobre, nossas próprias idéias, valores e atitudes em relação ao ambiente e aos outros seres vivos; quem sabe ai estão os fundamentos de uma ética ambiental universal, que integre as diversidades de visões sobre nosso lugar e nosso papel nesse (s) mundo (s).
Próximo Evento

12/03/2007 - 18:00 horas

Fábio Pedro de Souza Ferreira Bandeira (Departamento de Biologia/UEFS) - Cosmovisões indígenas: novos olhares sobre a natureza e a cultura.