Sunday, November 07, 2010

Resumo Café - 19/11/2010, 18:00

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade

O que é um número? Das quantidades às estruturas algébricas abstratas:
uma história

André Luis Mattedi Dias (IHAC-UFBA)


O que é um número? Como pessoas com diferentes graus de escolaridade e diferentes perfis de formação profissional respondem a esta pergunta? Quando esta pergunta é apresentada para professores de matemática, formados ou prestes a se formar, normalmente é imensamente majoritária uma resposta: os números representam quantidades. Todavia, não é este o conceito moderno de número institucionalizado na comunidade científica-profissional dos matemáticos, que domina nos currículos dos cursos de matemática de graduação, licenciatura ou bacharelado. Apresentaremos uma brevíssima e sintética história sobre o assunto, destacando aspectos sobre a produção desta concepção tradicional de número, que o associa com quantidade, contrapondo-a à produção da concepção moderna e científica de número.

LEITURAS COMPLEMENTARES:
ALMEIDA, Manoel de Campos. Origens dos numerais. SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, IV, Natal, 2001. Anais... Rio Claro: SBHMat,
2001, p. 119-130.
GERDES, Paulus. Sobre a origem histórica do conceito de número.
Boletim GEPEM. Rio de Janeiro, ano XVII, n. 30, p. 39-47, 1o sem.
1992.
DAMEROW, Peter. Números: herança biológica ou invenção humana? In:
SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, IV, Natal, 2001.
Anais... Rio Claro: SBHMat, 2001, p. 150-173.
RITTER, James. A cada um a sua verdade: as matemáticas no Egipto e na
Mesopotâmia. In: SERRES, Michel. (dir.). Elementos para uma história
das ciências, v. I. Lisboa: Terramar, 1996, p. 49-72.
ÁVILA , Geraldo. Grandezas incomensuráveis e números irracionais . RPM, n. 5.
ÁVILA , Geraldo. Eudoxo, Dedekind, números reais e ensino de
Matemática . RPM, n. 7
CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos fundamentais da matemática. Lisboa:
Sá da Costa, 1984.
GLAESER, Georges. Epistemologia dos números negativos. Boletim GEPEM.
Rio de Janeiro, n. 17, p. 29-124, 1985.
SCHUBRING, Gert. rupturas no estatuto matemático dos números
negativos. Boletim GEPEM. Rio de Janeiro, n. 37, p. 51 – 64, ago.
2002; n. 38, p. 73 – 93, fev. 2001.
BALDINO, Roberto Ribeiro. A ética de uma definição circular de número
real. Bolema. Rio Claro, a. 10, n. 9, p. 31-52,1994.

Wednesday, October 06, 2010

Resumo Café - 08/10/2010, 18:00

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade

O Fascinante Mundo dos Fungos

Aristóteles Goés Neto (Depto. de Ciências Biológicas, UEFS)



Os fungos juntamente com os insetos são um dos grupos de organismos mais diversos da Terra. São conhecidos apenas cerca de 105.000 espécies de fungos, aproximadamente 7% do estimado de 1,5 milhões de espécies. Os fungos são organismos eucarióticos, quimioheterotróficos, de nutrição absortiva com digestão extracorpórea parcial, predominantemente aeróbicos ou fermentadores facultativos, que
apresentam estrutura corpórea pluricelular micelial (fungos filamentosos) ou unicelular leveduriforme (leveduras), com parede celular constituída de quitina, glicanos e proteínas tendo o ergosterol como principal esteróide constituinte da membrana plasmática. Os fungos são predominantemente sapróbios e a decomposição, particularmente em ambientes terrestres, é a principal função ecológica desempenhada por este grupo de organismos. Eles podem ainda viver associados a outros organismos como parasitas ou mutualistas, como também formarem associações que não compreendem nem relação de parasitismo estrito nem mutualismo estrito, como no caso
dos líquens e fungos endobióticos. A importância econômica dos fungos para as sociedades compreendem tanto aspectos negativos, ou danos que estes organismos podem causar à economia, quanto aspectos positivos, podendo ser aproveitados economicamente. Os aspectos positivos dos fungos na economia, entretanto, suplantam os negativos. No setor agropecuário, os fungos já são utilizados para a micorrização de
sementes de algumas plantas cultivadas e no controle biológico de animais, plantas e fungos parasitas de vegetais agricultáveis. O impacto positivo dos fungos na economia decorre principalmente do setor industrial, já que diversos produtos são o resultado direto da atividade biológica desses organismos. Toda a indústria de processos fermentativos, quer de bebidas ou de alimentos fermentados, baseia-se na utilização industrial do processo natural de fermentação realizado por fungos. Os fungos são ainda utilizados para a produção tanto de metabólitos primários, como enzimas, como de metabólitos secundários como antibióticos, alcalóides e pigmentos. Os fungos ainda têm sido utilizados na biorremediação de compartimentos ambientais (ex. solo) comprometidos por altos índices de poluentes, de forma que vêm sendo
utilizados para uma decomposição mais eficiente do lixo orgânico, de compostos naturais recalcitrantes e de xenobióticos, assim como na biosorção de metais pesados e compostos radioativos. Além disso, os fungos compreendem uma importante fonte de novos compostos bioativos.

Bibliografia (em português):
AZEVEDO, J. L. ESPOSITO, E. 2009. FUNGOS - UMA INTRODUÇAO A BIOLOGIA,
BIOQUIMICA E BIOTECNOLOGIA. Caxias do Sul: EDUCS, 2ª Edição.

Tuesday, September 07, 2010

Resumo Café - 13/09/2010, 18:30

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade

Nanotecnologia e Nanociência: O que é? Como se faz? Para que serve? Que perigos encerra?

Caio Mário Castro de Castilho (Instituto de Física/UFBA)


Neste seminário serão apresentados alguns aspectos relativos ao que atualmente se denomina de Nanotecnologia e Nanociência. Após um brevíssimo histórico a respeito de alguns marcos do desenvolvimento destas áreas de atividade, serão discutidos o significado destes termos, como se realizam investigações e como se executam atividades relativas ao tema, quais os seus potenciais benefícios, algumas das suas aplicações e algumas perspectivas, inclusive a respeito dos perigos que potencialmente estas atividades podem encerrar.

A apresentação será feita numa linguagem simples, accessível a um público leigo mas com o necessário rigor no emprego na terminologia e na formulação dos conceitos.

Bibliografia sugerida (disponível na rede):
Parcerias Estratégicas/Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – no 18, (agosto de 2004) – Brasília: CGEE 2004.

Monday, August 16, 2010

Resumo Café - 20/08/2010, 18:00

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade

UM DIÁLOGO COM DOIS LIDERES INDÍGENAS:
ISAKA HUNI KUIN (Osvaldo Kaxinawá) &
INKA MURU (Agustinho Manduca Kaxinawá)


Com participação da Professora Cecilia McCallum (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA/Depto. de Antropologia)


Professora Cecilia McCallum (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA/Depto. de Antropologia) introduzirá Isaka e Inka Muru Huni Kuin, os palestrantes principais, que discorrerão sobre o tema Conhecendo os Huni Kuin (Kaxinawá) do Acre: uma civilização indígena amazônica no Brasil do século XXI. A Profa. McCallum é antropóloga, pesquisadora e estudiosa da cultura Huni Kuin do Acre. Durante a sua breve apresentação, ela falará sobre o que aprendeu durante a sua vivência numa aldeia no alto Purus e introduzirá esse povo indígena, para o que utilizará uma amostra de imagens. Por fim, ela tratará da situação dos Huni Kuin no rio Jordão, área de onde procedem os palestrantes principais, os líderes Agostinho e Osvaldo Kaxinawá.


Quem são os Kaxinawá, Huni Kuin



Os Kaxinawá, que se autodenominam Huni Kuin, “Gente Verdadeira”, são falantes da família lingüística Pano Hãtxa Kuin, “língua verdadeira”. Eles habitam a floresta tropical desde o leste peruano até o Acre, constituindo a população indígena mais numerosa desse estado. Conquistaram o reconhecimento legal do seu posse de várias áreas indígenas, nas quais a sua população está crescendo e fortalecendo a sua antiga civilização, através do estabelecimento da sua independência econômica e cultural, o fortalecimento da sua organização política e o engajamento com o estado nacional e a civilização não-indígena. Em todas as terras Kaxinawá do Acre há escolas funcionando com professores indígenas bilíngües, um agente de saúde e um agente agroflorestal. Como professor bilingue, Isaka (Osvaldo) participa de um verdadeiro renascimento cultural; e Inka Muru (Agostinho), que participou da reconquista das terras do seu povo, nas décadas finais do século XX, segue liderando os Huni Kuin, social e culturalmente.

Entre novembro e dezembro de 2009, dois representantes da Organização Não-Governamental, a AMEI - Associação de Arte, Meio Ambiente, Educação e Idosos de Salvador-BA - conheceram a aldeia São Joaquim, no Rio Jordão, desencadeando, assim, uma parceria na área de educação. Agostinho e Osvaldo Kaxinawá visitam Salvador através dessa parceria.

Recomendações para leitura:
WEBER, Ingrid. Um copo de cultura: os Huni Kuin (Kaxinawá) do rio Humaitá e a escola. Rio Branco: Edufac. 2006.
LAGROU, Els M. A fluidez da forma: arte, alteridade e ação em uma sociedade amazônica (Kaxinawá, Acre): Rio de Janeiro: Topbooks. 2007.
AQUINO, Terri V. de; IGLESIAS, Marcelo M. P. Kaxinawá do Rio Jordão: história, território e desenvolvimento sustentado. Rio Branco, AC: Gráfica Kenê Hiwê/CPI-Acr, 1994.
HENIPABU MIYUI: HISTÓRIA DOS ANTIGOS. Editora UFMG. 2000.
CAPISTRANO DE ABREU (J.) Ra-txa Hu-ni-ku-i a Lingua dos Caxinauas do Rio Ibuacu ... Grammatica, Textos e Vocabulario Caxinauas [Paperback] Sociedade Capistrano de Abreu; 2nd edicao edition (January 1, 1941) ASIN: B001Y6519E
KENSINGER, Kenneth. How Real People Ought to Live: the Cashinahua of Eastern Peru. Prospect Heights, IL: Waveland Press. 1995.
MCCALLUM, Cecilia. Gender and Sociality in Amazonia: How Real People are Made. Oxford: Berg, 2001
DESHAYES, P. & KEIFENHIEM, B.Pensar el Otro. Entre los Huni Kuin de la Amazonia Peruana. 2003. Lima Instituto Francês de Estudios Andinos / CAAAP.

Wednesday, July 28, 2010

Resumo Café - 13/08/2010, 18:00

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade


Minério: Base material da trajetória humana

Haroldo Sá (IG-UFBA)

Durante milênios, os fragmentos de rocha, os galhos de árvores e o barro foram, praticamente, as únicas matérias primas que nossos antepassados sabiam utilizar para atender suas necessidades básicas: caçar a comida, cortar um alimento, fazer fogo, construir um abrigo, defender-se do inimigo ou atacá-lo. Mas, sua capacidade de observação e aprendizado - e alguns acasos iniciais - levaram o homem a descobrir que era possível extrair metais das rochas e, com eles, fabricar utensílios bem mais eficientes. A combinação do cobre com o estanho deu origem à liga conhecida como bronze e, assim, inaugurou-se um novo estágio no desenvolvimento da civilização, conhecida como a idade do bronze. Por volta de 1.300 a.c., em alguns lugares da Ásia, já se produziam armas, arados e outros objetos de ferro, bem mais resistentes que os equivalentes feitos de bronze.

No século XIX, mais de 30 elementos da tabela periódica eram extraídos de diversos tipos de minério para fabricar pontes, casas, veículos, armas etc. Hoje, praticamente todos os elementos químicos, inclusive os isótopos artificiais, estão, direta ou indiretamente, presentes em todos os objetos e recursos que nos cercam e que utilizamos na vida moderna: aviões, celulares, alimentos, embalagens, equipamentos médicos, próteses e outros exemplos que fariam uma lista interminável.

Para a maioria das pessoas, os termos idade da pedra lascada (paleolítico), idade da pedra polida (neolítico), idade do bronze, idade do ferro são bem entendidos como estágios do desenvolvimento da civilização. Hoje, fica difícil nomear o nosso tempo: idade do alumínio (?), do silício (?). Entretanto, todos esses estágios têm um vínculo essencial com a matéria prima mineral extraída de um minério, a base material da trajetória humana.

Projetando essa trajetória surge a pergunta:
Nosso planeta tem reservas de minério suficientes para atender as demandas futuras de uma crescente população mundial?


Referências básicas:

STREET, A. & ALEXANDER, W. – 1994 – “ Metals in the Service of Man”. 10th ed., 309 p., Penguin Books.

WEINER, J> - 1988 – “ O Planeta Terra” , trad., 361 p., Livraria Martins Fontes Editora Ltda.

TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M.; FAIRCHILD, T.R.; TAIOLI, F. – 2000 - “Decifrando a Terra” 557 p., Oficina de Textos.

BLAINEY, G. – 2004 – “Uma Breve História do Mundo” , trad. 2ª. ed., 342 p., Editora Fundamento.

Tuesday, July 06, 2010

Resumo Café - 12/07/2010, 18:30

Local: LDM - Livraria Multicampi, na Rua Direita da Piedade, 20, Piedade

Políticas Públicas de Ciência e Tecnologia no Brasil

Amilcar Baiardi (UFRB/UFBA)

A intervenção estatal em C&T da Colônia para o Império e do Império para a República. A visão da intervenção dirigida para o desenvolvimento científico-tecnológico, dos eruditos viajantes para os PBDCTs, na segunda metade do século XX. Formação do sistema Brasileiro de C&T e o papel de Anísio Teixeira. Os desequilíbrios regionais, os fundos setoriais, os editais induzidos e a CGEE. O papel da SBPC edas sociedades científicas. A matriz recente do sistema brasileiro de C&T&I e os INCTs.

Recomendações para leitura:

• BAIARDI, A. Sociedade e Estado no apoio à Ciência e à tecnologia. São Paulo: HUCITEC, 1997;
• BAIARDI, A. O desenvolvimento da atividade científica no Brasil. In: SCLIAR, M. Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento da ciência no Brasil. São Paulo, Odysseus, 2002;
• MARCOVITCH, J. (org) Administração em Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro: FINEP/ EDGARD BLÜCHER, 1983.
• SICSU, A. B. Regionalização da política nacional de ciência e tecnologia. Recife: CNPq/Agencia do Nordeste, 1989.
• SCHWARTZMAN, S Formação da comunidade científica no Brasil. Rio de Janeiro: Cia Editora Nacional/FINEP, 1979.
• SCHWARTZMAN, S (coord.) Science and technology in Brazil: a new policy for a global world. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1995.
• ______________________ A capacitação brasileira para a pesquisa científica e tecnológica. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1996.

Monday, June 07, 2010

Resumo Café - 14/06/2010

Lévi-Strauss, o Brasil e a Etnologia Indígena

Edwin Reesink (CCH, UFPE) e Maria Rosário de Carvalho (FFCH, UFBA)

“O Brasil representa a experiência mais importante da minha vida, ao mesmo tempo pela distância e pelo contraste, mas também porque determinou minha carreira” (Folha de São Paulo, 22 de fev. de 2005: p. A14). Esta afirmação de Lévi-Strauss foi feita por ocasião do ano França - Brasil, mas afirmações sobre a sua “dívida muito profunda” com o país apareceram a cada vez que ele foi perguntado sobre esse período da sua vida e as conseqüências para sua carreira como antropólogo. Realmente, do seu livro mais conhecido – Tristes Tropiques – se depreende, facilmente, como a sociedade brasileira da época o impressionou e o conduziu a estudos de colonização e urbanização. Mas, é claro, o que de fato é lembrado e marcou a sua trajetória antropológica foram as expedições a povos indígenas no interior. Após testemunhar a situação de penúria dos Kaingang, que sofriam com a dominação por parte da sociedade nacional, seguiram-se pesquisas entre os Kadiweu e os Bororo. Os primeiros o impressionaram pelos desenhos corporais, os segundos por seus elaboradíssimos sistemas social e ritual. A publicação do material Bororo na França, a exposição dos objetos e os filmes produzidos facilitaram o acesso aos americanistas proeminentes da França e o tornaram mais conhecido. Ademais, possibilitaram o financiamento da expedição aos Nambikwara. Se o Brasil foi fundamental para a carreira do antropólogo iniciante, esta experiência foi o ápice e o cerne da iniciação.
Lévi-Strauss sempre considerou que sua passagem pelos cerrados da Chapada dos Paresis teve o peso de um “trabalho de campo” que o credenciou suficientemente, em termos antropológicos. De fato, ele trabalhou muito, teve uma grande empatia com os índios e chegou a afirmar se tratar da sociedade mais interessante que havia encontrado. Não é por acaso que nos primeiros artigos por ele publicados, decorrentes da sua expedição ao Brasil e aos Estados Unidos, durante a II Grande Guerra, os Nambikwara e os outros povos indígenas constituem a sua grande inspiração. Os temas aí tratados são inovadores por que tratam de terminologias de parentesco e afinidade, aliança, reciprocidade e hierarquia, e das relações dos grupos locais com o exterior. Se a primeira grande obra, Estruturas Elementares do Parentesco, pouco se ocupa das culturas indígenas, por falta de dados, em diversos momentos dos anos 1950 os povos indígenas aparecem: não são nem “arcaicos”, nem “simples”, e as aparências da sua organização social podem enganar, exibindo um dualismo dinâmico. Se estes artigos inspiraram pesquisas etnográficas, é com as Mitológicas, na década de 1960, que a etnologia indígena ocupa, pela primeira vez, o centro das atenções na antropologia mundial. Não é fortuito que esta mega-análise das qualidades concretas que revelam estruturas complexas do pensamento começa com um mito Bororo. A partir de então, a etnologia indígena toma, realmente, um impulso etnográfico e realiza um vôo teórico que redundarão no estado da arte atual, com um grau de conhecimento etnográfico e uma sofisticação teórica extremamente devedores às etnografias, intuições, inspirações e preocupações de Lévi-Strauss. O que, cabe assinalar, deixou-o, ao final da sua vida, muito satisfeito.

Referências:
Aspelin,P.
1976 “Nambicuara economic dualism: Lévi-Strauss in the garden, once again”. In: Bijdragen tot de Taal-, Land- en Volkenkunde, vol. 132, nr. 1.
1978 “Comments by Aspelin”. In: Bijdragen tot de Taal-, Land- en Volkenkunde, vol. 134, nr.1.
1979 “The Ethnography of Nambicuara Agriculture”. In: Bijdragen tot de Taal-, Land- en Volkenkunde, vol. 135, nr.1.

Faria, Luiz de Castro
2001 Another Look. A diary of the Serra do Norte Expedition. Rio de Janeiro : Ouro Sobre Azul.

Lévi-Strauss, C.
1943 “The social use of kinship terms among Brazilian Indians”. In: American Anthropologist Vol.45, Issue 3, Part 1.
1944 “Reciprocity and Hierarchy”. In: American Anthropologist vol.46, Issue 2.
1946 “The name of the Nambikuara”. In: American Anthropologist Vol. 48, Issue 1.
1948a “The Nambicuara”. Em J.Steward (ed.), Handbook of South American Indians vol. 3. Washington: U. S. Government Printing Office.
1948b “La Vie familiale et sociale des Indiens Nambikwara”. In: Journal de la Société des Américanistes Tome XXXVII.
1957 Tristes Tropicos. São Paulo: Edições Anhembi.
1970 Antropologia Estrutural. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro.
1976a “Guerra e comércio entre os índios da América do Sul”. In: E. Schaden (ed.), Leituras de Etnologia brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional.
1994 Saudades do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.


Price, P. David
1978 “Real toads in imaginary gardens: Aspelin vs. Lévi-Strauss on Nambiquara nomadism”. In: Bijdragen tot de Taal-, Land- en Volkenkunde, vol. 134, nr.1.
1991 “Nambiquara Nomadism: A Final Note”. In: Bijdragen tot de Taal-, Land- en Volkenkunde, vol. 147, nr.1.

Reesink, Edwin
2008 “Lévi-Strauss e os Trópicos dos Nambikwara”. In: Revista Portuguesa da História do Livro, Ano XI (2007), No. 22.

Souza, Marcela Coelho de e C.Fausto
2004 “Reconquistando o campo perdido: o que Lévi-Strauss deve aos ameríndios”. In: Revista de Antropologia, vol. 47 no.1.

Viveiros de Castro, E.
2008 “Une société réduite à as plus simple expression”. In : (sem ed.) Le Siècle de Lévi-Strauss. Paris : Saint Simon e CNRS éditions.
2009 “Claude Lévi-Strauss”. Entrevista de Viveiros de Castro. In: Estudos Avançados vol.23 no.67.

Wednesday, May 19, 2010

Resumo Café - 28/05/2010

A ciência fala do real?

Charbel Niño El-Hani
(Instituto de Biologia, UFBA)

Partiremos da discussão dos modelos científicos como elementos centrais na construção do conhecimento que a ciência nos proporciona sobre o mundo. Distinguiremos modelos de escala, modelos analógicos, modelos matemáticos e modelos teóricos. Ao discutir modelos teóricos, nosso argumento se baseará na impossibilidade de os modelos maximizarem simultaneamente três características: generalidade, precisão e realismo. Mostraremos, então, que modelos nunca são a realidade, constituindo erro grave confundir um com o outro. Mais do que isso mostraremos que, de modo normativo, modelos devem ser distintos da realidade. De outro modo, não podem cumprir o papel que lhes cabe na ciência. Assim, contrariamente ao que muitas vezes se pensa, não é na preservação de toda informação sobre o real que está o poder dos modelos, mas, antes, na perda de informação orientada pela atenção seletiva que uma teoria científica nos fornece relativamente a variáveis relevantes e irrelevantes para a compreensão da situação modelada. À luz desse argumento, discutiremos o papel da abstração na construção de modelos, em particular, na obtenção de generalidade. Esta é uma característica das representações, incluindo os modelos, que não escapou ao escritor argentino Jorge Luís Borges, como podemos ver em seu “Del rigor de la ciencia”, onde ele descreve a vã busca de um mapa perfeito, destituído de utilidade (ver http://www.youtube.com/watch?v=zwDA3GmcwJU e http://www.youtube.com/watch?v=if0YH_PC02Y). Finalizaremos, então, com uma discussão sobre como podemos derivar, deste modo de compreender os modelos, uma conclusão mais geral sobre todo e qualquer conhecimento humano. Não temos como saber o que é o verdadeiro e o real, não importa de qual forma de conhecimento estejamos falando. Trataremos, então, de duas respostas a esta impossibilidade: de um lado, uma realista, na qual se busca formular uma noção consistente de verdade aproximada, entendida como uma correspondência entre a realidade e as entidades teóricas (inobserváveis) e empíricas (observáveis) de nossas teorias e modelos. De outro, uma anti-realista, que se restringe à possibilidade de uma correspondência entre as aparências da realidade, tal como presentes em nossa experiência (na forma de observações, medições, relatos experimentais), e as entidades empíricas de nossas teorias e modelos. Será importante discutir, então, qual o estatuto das entidades teóricas em tal visão anti-realista, em particular, a idéia de que elas são ficções úteis, às quais não é necessário adicionar qualquer hipótese de correspondência ao real.


Bibliografia

BLACK, Max. Models and Metaphors. Ithaca, NY: Cornell University Press, 1962.
BORGES, Jorge Luís. História Universal da Infâmia. Rio de Janeiro: Globo, 2001.
CHALMERS, Alan F. O que é Ciência Afinal? São Paulo: Brasiliense, 1995.
DUTRA, Luiz Henrique. Introdução à Teoria da Ciência (3a Ed.). Florianópolis: UFSC, 2009.
GODFREY-SMITH, Peter. Theory and Reality. Chicago: University of Chicago Press, 1993.
HACKING, Ian. Representing and Intervening. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
VAN FRAASSEN, Bas. A Imagem Científica. São Paulo: UNESP, 2007.

Tuesday, May 04, 2010

Resumo Café - 10/05/2010

Da intuição ao cálculo na ciência das construções

Mário Mendonça
(Escola Politécnica, UFBA)

Argumento relevante na história da ciência é o conhecimento de como os antigos enfrentavam o desafio de elevar construções gigantescas sem o apoio da moderna ciência das construções. Através desta exposição pretende-se demonstrar como, no passado a intuição muitas vezes preenchia a lacuna das elucubrações matemáticas e a ciência empírica experimental, desenvolvida pela prática da ars mecânica, alimentava o conhecimento dos limites do possível e da segurança dos edificados.

São discutidas as causas pelas quais o mundo medieval nos deixa reduzidas informações sobre os aspectos técnicos da edificação e de outros misteres exercidos pelos burgueses das comunas, procurando entender os segredos da scientia das corporações de ofício guardados ciosamente pelos mestres, companheiros e aprendizes a elas afiliados.

Mostra-se o primeiro passo dado por Galileu na procura de entender através de expressões matemáticas o comportamento dos fabricados e como este processo evoluiu durante os séculos que se sucederam. Destaca-se a grande contribuição da engenharia militar e das escolas militares que nos legaram figuras fundamentais para os estudos da teoria da elasticidade das estruturas até a sua articulação final no século XIX. Nesta trajetória é enfatizado o fato de que o empirismo e a intuição nunca abandonaram o desenvolvimento da ciência desde a grande contribuição metodológica cartesiana até os dias atuais.

Bibliografia

CROCI, Giorgio. Intuizione e calcolo nella progetazione delle strutture: Prevenzione dei dissesti e consolidamento. Milano: Hoepli, 1977.
CROCI, Giorgio. I dissesti ed i crolli nell’evoluzione delle costruzioni, della scienza e della tecnica: prevenzione e criteri d’íntervento. In: Corso di Informazione ASSIRCCO, 1., Perugia, 6-8 nov. 1979. Atti...: La conservazzione dei monumenti: metodogia di ricerca e tecniche di consolidamento contro il degrado. Roma: Kappa, 1981. p. 65-100.
HEYMAN, Jacques. La ciencia de las estructuras. Madrid: Instituto Juan de Herrera, 2001. Traducción de Gema M. Lopes Manzanares.
OLIVEIRA, Mário M. Reabilitação de estruturas antigas: uma visão histórica: In: Congresso Internacional sobre o Comportamento de estruturas Danificadas, jul. 3, 2002, Rio de Janeiro. Anais..., 2002. Rio de Janeiro: UFF, 2002. Registro digital.
SANTIAGO, Cybèle C.; MIRANDA, Murilo A. Caracterização de madeiras brasileiras: um estudo de caso do Século XVIII. In: ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E ESTRUTURAS DE MADEIRA, 6., 22-24 jul. p.77-89, 1998, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 1998. p. 77-89.
TIMOSHENKO, Stephen P. History of strength of materials. New York: Dover, 1983.

Saturday, May 01, 2010

Resumo Café - 19/04/2010

O Clima em Copenhague e depois
Maíra Azevêdo, Bióloga



Um panorama sobre as discussões, encaminhamentos e possibilidades que vão se desenhando a respeito dos efeitos da ação humana sobre o clima do planeta e os efeitos das alterações climáticas na vida humana. Os Fóruns Climáticos pontuam a construção de um caminho, mas a ausência de uma posição arrojada por parte dos governos não condiz com a urgência exigida pela situação. Como a sociedade civil vem se organizando para mostrar seu posicionamento e levar novas idéias aos tomadores de decisão do mundo.


SUGESTÕES DE LEITURA

1- Klimaforum Declaration, disponível em várias línguas em http://declaration.klimaforum.org/declaration?page=1
2- Política Nacional sobre Mudança do Clima, Lei 12.187 /29 de dezembro de 2009, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12187.htm
3- Permaculture, From Disasters to solution – The greenest planet on the earth, proposta do Conselho Internacional de Permacultura para criação e gestão de um fundo direcionado ao reflorestamento respeitando os princípios da biodiversidade e segurança alimentar (levarei alguns exemplares p distribuir)
4- Manfrinato, Warwick, Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal no contexto da mitigação de mudanças climáticas, o código florestal o Protocolo de Quioto e o mecanismo de desenvolvimento limp / coordenação de Warwick Manfrinato, coautores Maria José Zakia ... et al. – Rio de Janeiro. The Nature Conservancy; Piracicaba: Plant Planejamento e Ambiente Ltda, 2005.Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade / Ladislau Dowbor, Renato Arnaldo Tagnin (organizadores) – São Paulo: Eitora SENAC São Paulo, 2005
5- Gonçalves, Carlos Walter Porto, O desafio Ambiental / Carlos Walter Porto Gonçalves, organizador Emir Sader – Rio de Janeiro: Record, 2004. – (Os porquês da desordem mundial. Mestres explicam a globalização)
6- Lynas, Mark, 1973- 1,996s. Seis Graus: o aquecimento global e o que você pode fazer para evitar uma catástrofe / Mark Lynnas, tradução Roberto Franco Valente; revisão técnica Mariana Viveiros – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008
7- Nova Lei das Águas do Estado da Bahia Lei 11.612/09
8- Mollinson Bill e Saly, Reny Mia, Introdução `a Permacultura, tradução de André Luis Jaeger Soares. Tagari Publications-Tyalgum-Australia
9- Série Soluções Sustentáveis: Permacultura Urbana, Uso da Água na Permacultura, Permacultura na Agricultura Familiar e
10- Livraria Tapioca: http://www.livrariatapioca.net/

Thursday, March 11, 2010

Resumo Café - 22/03/2010

Calangos – Um jogo eletrônico para ensinar ecologia e evolução

Angelo Loula e Antonio Apolinário (UEFS), Pedro Luís Bernardo da Rocha (UFBA), Leandro Nunes de Castro (Mackenzie), Charbel El-Hani (UFBA).

O ensino de biologia tem sido marcado, como a educação científica em nosso país, por grandes dificuldades. Deve ser compromisso, assim, tanto dos governos quanto das universidades e da escola contribuir para a melhoria da formação científica dos cidadãos brasileiros. Dessa maneira, poderemos educar pessoas capazes de exercer sua cidadania de forma mais crítica diante de uma sociedade cada vez mais atravessada pela ciência e tecnologia. Não ser capaz de compreender idéias científicas é hoje um fator de exclusão social, que cria empecilhos para que o Brasil ocupe um papel de maior destaque no cenário sócio-político e econômico mundial.

Um dos problemas da educação escolar e, logo, do ensino de ciências reside em sua parca conexão com a vida cotidiana dos estudantes. Isso significa, no caso de muitos estudantes que hoje ocupam nossas salas de aula, trazer para ensino linguagens e outros recursos que mediam suas experiências no seu dia a dia. Certamente, para muitos estudantes do ensino médio, os jogos eletrônicos são uma desses recursos mediadores, caracterizados por uma linguagem própria e com grande potencial para o ensino. Este potencial tem sido, contudo, pouco explorado. Primeiro, porque a produção de um jogo eletrônico educacional de fato coloca grandes desafios. Um dos principais é encontrar um equilíbrio apropriado entre a jogabilidade e a aprendizagem. Por vezes, um jogo com elevada jogabilidade pouco ensina, outras vezes, ele pretende ser tão educativo que deixa de ser um jogo. Segundo, porque ainda se tem grande preconceito contra jogos eletrônicos educacionais, como se fossem apenas brincadeiras, e não recursos de aprendizagem. Contudo, nossa espécie, assim como muitas outras espécies, sempre usou e usa o jogo, a brincadeira como meio de aprendizagem. Estas são apenas algumas entre várias razões pelas quais jogos educacionais são ainda pouco usados em nossa escola.

Há três anos decidimos enfrentar esses desafios, com um financiamento obtido junto à FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e bolsas fornecidas pela FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia). Montamos uma equipe reunindo pessoas das áreas de educação, biologia e computação para desenvolver um jogo eletrônico educacional que pudesse contribuir para o ensino de dois assuntos centrais da biologia, evolução e ecologia.

O jogo, intitulado Calangos, é baseado na modelagem de um caso ecológico real, encontrado nas Dunas do Médio São Francisco, no Estado da Bahia, investigado por pesquisadores brasileiros, como o prof. Pedro Luís Bernardo da Rocha, do Instituto de Biologia, UFBA. Assim, buscamos também valorizar no jogo a ciência brasileira. Este é um jogo que simula um micro-mundo e coloca os estudantes na pele de lagartos das dunas. Eles precisam aprender a usar estratégias de sobrevivência adequadas em meio às dunas, de modo que seus lagartos possam sobreviver, crescer e se reproduzir com sucesso. Vendo o mundo pelos olhos de um lagarto, eles precisam aprender a enfrentar desafios como a regulação da temperatura por meio do comportamento, expondo-se ao Sol quando seus corpos resfriam, ou buscando a sombra quando super-aquecem. Pior ainda, precisam combinar esses comportamentos de regulação com a tarefa de encontrar comida e escapar dos predadores, que querem transformá-los em comida. Analisando dados que mostram como estão se comportando a temperatura de seus corpos, sua nutrição, sua saúde geral, entre outros fatores, os estudantes vão buscando essas estratégias enquanto aprendem sobre interações ecológicas, fisiologia, comportamento, entre outros assuntos. Além disso, o jogo Calangos teve seu desenvolvimento baseado em uma teoria da aprendizagem específica, por considerarmos que não há como elaborar um recurso para o ensino com qualidade sem basear-se em uma compreensão sobre a aprendizagem. No caso do Calangos, esta teoria foi a teoria da aprendizagem significativa, de David Ausubel e colaboradores.

Neste evento especial do Café Científico Salvador, lançaremos a primeira fase do jogo, descrita acima, assim como um documentário sobre o desenvolvimento do mesmo. Nossa expectativa é que o jogo, já disponibilizado para download no site http://calangos.sourceforge.net/, possa vir a contribuir, desde já, para a melhoria do ensino de biologia nas escolas não somente da Bahia, mas de todo o Brasil. Esperamos que professores e estudantes baixem o jogo e experimentem ensinar e aprender com ele. Além disso, no site, disponibilizamos textos sobre o uso de jogos no ensino, a teoria da aprendizagem significativa, as dunas do Médio São Francisco, além de textos e orientações sobre o próprio jogo.

Nossa pesquisa continua e pretendemos nos próximos meses lançar a segunda fase do jogo, em que os estudantes construíram seus próprios lagartos, e então a terceira e quarta fases, no ano seguinte, em que o jogo passa a ser jogado no nível populacional (terceira fase), e não individual, e então no tempo evolutivo (quarta fase), e não apenas ecológico.


BIBLIOGRAFIA ADICIONAL PARA LEITURA

Ausubel, D. P.; Novak, J. D. & Hanesian, H. 1983. Psicologia Educacional. 2°ed.. Rio de Janeiro: Interamericana.

Gee, J. P. (2007) What Video Games Have to Teach Us About Learning and Literacy (2nd ed.). New York: Palgravre Macmillan.

Kishimoto, T. M. 1993. Jogos tradicionais infantis: o jogo, a criança, a educação (8a ed.). Petrópolis: Vozes.

Mendes, C. (2006). Jogos eletrônicos: diversão, poder e subjetivação. Campinas: Papirus.

Moreira, M. A. 1999. Aprendizagem Significativa. Brasília: Ed. UnB.

Spigolon, R. 2006. A importância do lúdico no aprendizado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas.

Prensky, M. (2006). Don't Bother Me Mom—I'm Learning!: How computer and video games are preparing your kids for 21st century success and how you can help! St. Paul: Paragon House Publishers.

Prensky, M. 2007, Digital Game-Based Learning, Paragon House Publishers.

Próximo Café - 22 de março de 2010 – 18:00

Lançamento do jogo Calangos, um jogo eletrônico para ensinar ecologia e evolução.

Angelo Loula e Antonio Apolinário (UEFS), Pedro Luís Bernardo da Rocha (UFBA),
Leandro Nunes de Castro (Mackenzie), Charbel El-Hani (UFBA)

Sunday, March 07, 2010

Resumo Café - 08/03/2010

Os Parasitas e o Homem

Manoel Barral-Netto - Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (FIOCRUZ-Bahia) - Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA).

O tema central da discussão será a relação entre patógenos parasitários e o homem. Na verdade, o homem como representante dos hospedeiros de parasitas e exemplos obtidos em outros animais também serão utilizados.

A relação parasita-hospedeiro já foi descrita como paradoxal. O parasita depende do hospedeiro para sua sobrevivência, ou seja a sobrevivência do parasita depende da sobrevivência do hospedeiro. Ainda assim, o parasita inflige dano e pode chegar a comprometer a sobrevivência do hospedeiro. Como entender esta relação é o foco central da discussão.

A discussão das estratégias de sobrevivência (transmissão) dos patógenos ajuda a compreender os padrões de virulência. Um patógeno cuja disseminação depende da mobilidade do seu hospedeiro, pode ter vantagem na seleção de variantes menos virulentas o que leva a menor comprometimento da sobrevivência do hospedeiro. Por outro lado, um patógeno capaz de disseminação através de vetores, pode ter maior possibilidade de sobrevivência pela seleção de variantes mais virulentas, capazes de infectar grande número de indivíduos de forma rápida.

Evidentemente, que os modelos desta relação não são simples e as estratégias indicadas acima sofrem um grande influência do número de hospedeiros susceptíveis que estão disponíveis no meio ambiente.

As co-infecções, ainda pouco estudadas, têm papel importante na sobrevivência tanto dos parasitas quanto dos hospedeiros. Como co-infecções podem ter efeito aditivo no dano sobre o hospedeiro, como isto afeta cada um dos parasitas?

Além das infecções, os parasitas podem modular outras enfermidades. Pode ocorrer, como é mais fácil de imaginar, um agravamento de algumas doenças em decorrência do parasitismo. Contudo, pode ocorrer também uma melhora de enfermidades, incluindo inclusive, em alguns casos, efeitos benéficos sobre a saúde do hospedeiro afetado por enfermidades não-parasitárias.

Outros fatores participam de forma marcante em todo este processo, e daremos ênfase à discussão do papel do sistema imune no entendimento da relação entre parasita e hospedeiro. Este é um campo bastante interessante, com exemplos que incluem a presença de moléculas semelhantes entre parasitas e hospedeiros.

Não há conclusões definitivas, o campo necessita ainda de maior conhecimento antes do desenvolvimento de um modelo que explique as relações complexas entre os parasitas e seus hospedeiros de forma completa.

LEITURA RECOMENDADA

Em português:

Luis Rey – Parasitologia.

David Neves - Parasitologia Humana (11ª Ed.)

Medipedia http://bit.ly/9ECYXB

Em inglês:

Crossing the Line: Selection and Evolution of Virulence Traits Brown, N., Wickham, M., Coombes, B., & Finlay, B. (2006). Crossing the Line: Selection and Evolution of Virulence Traits PLoS Pathogens, 2 (5)

DOI: 10.1371/journal.ppat.0020042 http://bit.ly/adfvTZ

Próximo Café - 8 de março de 2010 – 18h:30min

Os Parasitas e o Homem

Manoel Barral (Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz - FIOCRUZ-Bahia; Faculdade de Medicina da Bahia – Ufba).

Sunday, January 31, 2010

Resumo Café - 01/02/2010

A constituição do método experimental no século XVIII: as experiências de Lazzaro Spallanzani sobre a reprodução de anfíbios

Maria Elice Brzezinski Prestes

IB/USP

O século XVIII testemunhou uma grande expansão dos estudos sobre os seres vivos na Europa. Egressos dos cursos universitários da época, como Medicina, Artes, Filosofia Natural ou Teologia, dedicaram-se a estudos específicos em áreas que se desenvolviam desde o Renascimento, como a Anatomia e a Botânica e Zoologia – estas últimas voltadas especialmente ao inventário, nomeação e classificação dos organismos. Além disso, os então chamados “naturalistas” ou “filósofos naturais” também aprofundaram conhecimentos sobre a recém descoberta vida microscópica, bem como sobre o funcionamento dos seres vivos. Em torno a este último tema, encontramos o desenvolvimento do método experimental, talvez o menos conhecido da história da biologia daquele século.

Desde as últimas décadas do século XVII e ao longo do século XVIII houve um aumento bastante importante no número de naturalistas dedicados aos estudos fisiológicos das diferentes espécies, seja de plantas, seja de animais, incluindo os corpos vivos microscópicos. Desenvolveu-se ali, portanto, uma fisiologia que não é a fisiologia humana, intimamente relacionada à Medicina, como aquela que consagrou o método experimental de Claude Bernard em meados do século XIX.

Nesta apresentação, discutiremos a constituição do método de pesquisa utilizado nessas investigações sobre funções vitais de plantas, animais e corpos microscópicos. Identificaremos componentes que foram sendo selecionados e validados pela comunidade de filósofos naturais ocupados em promover a “interrogação à natureza”. A então chamada “arte de observar e fazer experiências” será exemplificada em estudos sobre a reprodução de anfíbios realizados por um dos expoentes dessa tradição, o padre naturalista italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799).

Leituras recomendadas:

Alfonso-Goldfarb, A. M. et al. O saber fazer e seus muitos saberes: experimentos, experiências e experimentações. São Paulo: Editora e Livraria da Física / Educ, 2006.

Filosofia e História da Biologia, volumes 1, 2 e 3. São Paulo: ABFHiB, 2006, 2007 e 2008.

Russo, Marisa e Caponi, Sandra. Estudos de filosofia e história das ciências biomédicas. São Paulo: Discurso Editorial, 2006.

Saturday, January 30, 2010

Próximo Café - 1 de fevereiro de 2010 – 18:30

Mesa redonda: A dimensão histórica e filosófica da biologia.

Maria Elice Brzezinski Prestes (Instituto de Biociência, USP): A constituição do método experimental no século XVIII.

Gustavo Caponi (Dept. de Filosofia, UFSC): O transformismo de Buffon.

Wednesday, January 06, 2010

Próximo Café 11 de janeiro de 2010 – 18:30

Mente, Corpo e o Lugar da Cultura na Biologia

por Hilton Japyassú (Instituto de Biologia, UFBA)

Resumo Café - 14/12/2009

50 anos da descoberta da trissomia 21 como causa da síndrome de down: o que pode ainda ser pesquisado?

Lilia Maria de Azevedo Moreira - Geneticista, Instituto de Biologia - UFBA

O início do estudo científico da Síndrome de Down (SD) data do século XIX, com os trabalhos de Esquirol (1838), Segun (1846), Langdon Down (1866) e Fraser e Michel (1876). O farmacêutico e médico inglês John Langdon Down teve o mérito de publicar no seu artigo as características principais da síndrome e também, seguindo as tendências científicas da época, propor uma classificação étnica da deficiência intelectual, de acordo com uma retrogressão racial. Daí a denominação “mongolóide”, que caiu em desuso depois da década de 70, sendo suprimida dos periódicos científicos e substituída pela designação Síndrome de Down. Em 1956 foi conhecido o número correto de cromossomos humanos e em 1959, exatamente há 50 anos, publicado o trabalho seminal do pesquisador francês Jerome Lejeune, estabelecendo a causa da Síndrome de Down pelo excesso de material genético do cromossomo 21. O grande legado do Prof. Lejeune foi ter identificado a origem cromossômica da síndrome de Down o que levou ao esclarecimento de diversos aspectos biomédicos relacionados a esta síndrome e a outros numerosos distúrbios hereditários. O desenvolvimento metodológico nesta área de pesquisa permitiu a realização do diagnóstico pré-natal, atualmente de uso rotineiro, embora limitado por aspectos éticos e econômicos, assim como a delimitação de região genética no cromossomo 21, presumidamente crucial para a manifestação de sinais e sintomas da síndrome como cardiopatia congênita, deficiência intelectual e o envelhecimento precoce. A comparação do seqüênciamento do genoma de ratos com o humano, com o reconhecimento de regiões sintênicas entre o 21 humano e os cromossomos 16,17 e 10 dos animais, levou ao estudo das manifestações SD em modelos animais, que não obstante a sua grande contribuição, apresenta limites na aplicação dos conhecimentos obtidos. Estudos refinados associando metodologias da citogenética com a genômica têm confirmado a participação de genes como o APP (proteína beta amilóide) na manifestação dos sintomas de envelhecimento precoce que ocorre em torno de 43% das pessoas com a síndrome na faixa dos 50 anos. Moreira, Gusmão e El-Hani (2000) observam que “não obstante a SD ser uma condição claramente genética, uma explicação gene - cêntrica não dá conta de todos os seus aspectos”. Há ainda muitas questões científicas na genética da SD ainda não resolvidas, mas o avanço destes estudos tem sido acompanhado de mudanças atitudinais e medidas eficientes de tratamento médico, atualmente proporcionando à pessoa com a síndrome de Down uma vida melhor e mais longa.


Leituras recomendadas

Cunningham,C. Síndrome de Down: Uma introdução para pais e cuidadores,3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Moreira, LMA. O nascituro à luz da genética, em Duarte, G, Fontes, JAS. O nascituro: Visão Interdisciplinar, São Paulo: Atheneu, 2009

Moreira, LMA; El-Hani, CN; Gusmão, FA. A síndrome de Down e sua patogênese: considerações sobre o determinismo genético, Rev Bras Psiquiatria v.22,n.2,p. 96-99, 2000

Moreira, LMA; Gusmão,FA. Aspectos genéticos e sociais da sexualidade em pessoas com síndrome de Down, Rev.Bras. Psiquiatria, v.24,n.2,p.94-99,2002

Pueschel,S. Síndrome de Down: Guia para pais e educadores, Campinas,SP: Papirus, 1993

Schwartzman, JS. Síndrome de Down. 2.ed.,São Paulo: Memnon,2003

Próximo Café 14 de Dezembro de 2009 – 18:30

50 anos da descoberta da trissomia 21 como causa da síndrome de down: o que pode ainda ser pesquisado?

por Lília Maria de Azevedo Moreira (IB-UFBA)