Saturday, July 09, 2016

Neste mês de julho de 2016, o Café Científico Salvador trata de um tema candente do mundo contemporâneo, a medicalização da vida, a transformação de experiências humanas comuns (como o luto ou a desatenção) em transtornos ou doenças.

O QUE?
Medicalização da vida: quando nossas experiências são transformadas em transtornos

QUANDO?
18 de Julho de 2016 (Segunda-Feira)

A QUE HORAS?
18:30 HORAS

ONDE?
Sala de Projeção Luís Orlando, Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Biblioteca Dos Barris), Rua General Labatut, 27, Barris, Salvador-Ba


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Medicalização da vida:
Quando nossas experiências são transformadas em transtornos

Tiago Alfredo da Silva Ferreira
Instituto de Psicologia/UFBA

A medicalização da vida é caracterizada por um processo de transformação de experiências humanas comuns (e.g., luto, desatenção e ansiedade), em transtornos ou doenças (e.g., Depressão, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e Transtorno de Ansiedade Generalizada) (BRZOZOWSKI & CAPONI, 2013). Esse processo é consonante com a expansão do poder biomédico (LEMOS, 2014), bem como com a Medicina e a indústria farmacêutica como agências de controle social, influenciando o desenvolvimento da vida dos sujeitos em diversos ambientes com os quais interagem, como a escola, a família e o trabalho. A presente comunicação não possui por objetivo julgar se determinados problemas particulares podem ser “realmente” problemas médicos, mas objetiva examinar as principais implicações da expansão da medicalização da vida no ensino das ciências da saúde.

O fenômeno da medicalização mobiliza diversas áreas do conhecimento, tais como Medicina, Biologia, Sociologia e Psicologia. Em especial, há influência das práticas de medicalização no modo como os estudantes das áreas de saúde aprendem a tratar de questões relativas à experiência de sofrimento subjetivo e no modo como elaboram propostas para resolução destes problemas. Segundo Timimi (2010), apesar de a cultura ocidental dispor de métodos psicoterápicos (e.g. terapia familiar; terapia cognitivo-comportamental; terapia psicodinâmica) e farmacêuticos para lidar com tais questões, o ensino desses métodos se apresenta por uma abordagem que enfatiza a reprodutibilidade técnica de acordo com manuais de classificação, isto é, enfatiza-se o aprimoramento de técnicas para elaboração de diagnósticos muito mais do que reflexões (como as éticas) sobre a sua necessidade e das subsequentes receitas de medicamentos.

A partir do referencial da Relational Frame Theory (RFT), esta comunicação propõe que as ciências da saúde, quando envoltas em práticas de medicalização da vida, estão diretamente vinculadas ao fortalecimento de processos avessos à saúde e qualidade de vida (e.g. esquiva experiencial), aumentando o sofrimento humano enquanto, paradoxalmente, tenta reduzi-lo (HAYES, 1999). Em outras palavras, as ciências da saúde podem estar gerando os problemas que procuram combater quando, a partir de processos educacionais, preparam profissionais para considerar como transtornos médicos determinadas experiências humanas comuns. Para fundamentação desta proposta, esta comunicação envolverá (a) uma definição do processo de medicalização da vida, (b) uma breve exposição da RFT enquanto teoria explicativa das consequências subjetivas da medicalização e (c) uma reflexão acerca das implicações desta discussão para o ensino de ciências da saúde.


PARA SABER MAIS:

BRZOZOWSKI, F. S.; CAPONI, S. N. C. Medicalização dos Desvios de Comportamento na Infância: Aspectos Positivos e Negativos. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília , v.33, n.1, p.208-221, 2013.

HAYES, S. et al. Acceptance and Commitment Therapy: een derde-generatie gedragstherapie. Gedragstherapie, v.2, p.69-96, 2003.

LEMOS, F. C. S. A medicalização da educação e da resistência no presente: disciplina, biopolítica e segurança. Rev. Quadr. Assoc. Bras. Psi. Esc. Edu. São Paulo, v.18, n.3, p.485-492, Dez. 2014.

TIMIMI, S. The McDonaldization of childhood: children's mental health in neo-liberal market cultures. Transcultural Psychiatry, v.47, n.5, p.686-706. 2010. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2015. 

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