O Darwinismo chega à Bahia: o caso Domingos Guedes Cabral.
por Ronnie Tavares de Almeida do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBa.
Quando olhamos para a História da Bahia Imperial, mesmo o observador mais desatento terá grandes possibilidades de se deparar com o nome de uma personalidade baiana que teima em aparecer nas discussões, Domingos Guedes Cabral. Principalmente, porque temos dois homens (pai e filho) que, além de compartilharem o mesmo nome, possuíam as mesmas qualidades combativas: lutaram contra a forma de governo estabelecida, contra a presença da Igreja Católica em assuntos alheios à fé, contra o regime escravocrata, contra o suposto “atraso” em que o país estava mergulhado, contra o tipo de educação disponível no país etc. As batalhas eram diversas e precisavam ser travadas em muitos campos. Esses dois homens estavam dispostos a lutar, algumas vezes com pouco apoio social, pelas idéias que acreditavam. Pretendiam colaborar com a implementação de algumas das mudanças que julgavam indispensáveis para que o Brasil ingressasse no mundo civilizado (leia-se Europeu!!).
Falaremos do segundo Guedes Cabral, médico pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1875. Esse personagem protagonizou um dos eventos mais curiosos do mundo acadêmico baiano, teve sua tese de doutoramento recusada pela Faculdade de Medicina, único exemplo que conhecemos durante o período. Pretendemos apresentar um pouco da história de vida desse ator social e problematizar os motivos da recusa de sua tese. Duas explicações normalmente acompanham esse evento da recusa, as duas centradas nas idéias presentes na tese. Para alguns historiadores, o problema ocorreu porque o autor defendeu idéias materialistas, principalmente aquelas oriundas das teorias de Charles Darwin, em um momento em que isso ainda não seria possível no meio acadêmico local; para outros, o problema estava circunscrito à tentativa de Guedes Cabral de buscar provas de que Deus não existia, o que teria despertado a ira da Igreja Católica. Aceitamos em parte essas duas explicações e acrescentaremos outras, conforme poderá ser observado ao longo da apresentação.
Leituras Recomendadas:
Almeida, R. J. T. & El-Hani, C. N. (2007). A Medicina como “Philosophia Social”: Domingos Guedes Cabral e a Tese Inaugural “Funcções do Cérebro” (1875). Revista da SBHC (Brasil) 5(1): 6-33. Disponível em http://www.mast.br/arquivos_sbhc/321.pdf.
BLAKE, Augusto V. Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro V.2 Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1893.
CABRAL, Domingos Guedes. Funcções do Cérebro. Bahia: Imprensa Nacional, 1876, 226p.
COLLICHIO, Terezinha Alves Ferreira. Miranda Azevedo e o Darwinismo no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia (ed. da USP), 1988, 166p.
ROMERO, Sylvio. Obra Filosófica, Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editôra. (Editora da USP), 1969.
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