Friday, October 05, 2012

Café Científico Salvador discute uma nova e revolucionária perspectiva sobre o câncer.

Café Científico Salvador - 26/10/2012 - 18:00

Local: Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Biblioteca dos Barris), Rua General Labatut, 27, Barris, Salvador-BA.

O desenvolvimento do câncer considerado sob uma perspectiva organicista

Susie Vieira de Oliveira (Depto. de Ciências Biológicas, UEFS)



O câncer tem sido, talvez, a patologia mais extensivamente estudada nas últimas décadas, tanto devido à natureza da sua complexidade, quanto por representar um grave problema de saúde pública para as sociedades contemporâneas. Trata-se de um processo multifatorial, que se desenvolve em etapas múltiplas e que é caracterizado, principalmente, por alterações no controle da proliferação e diferenciação celulares.

A descoberta dos oncogenes e dos genes supressores de tumor como entidades envolvidas na regulação dos processos de crescimento, diferenciação e morte celulares, promoveu uma explosão de investigações centralizadas na identificação de genes, dos seus produtos protéicos e das rotas metabólicas relacionadas. Estes esforços culminaram na produção de uma lista numerosa de genes/proteínas que, em seus estados alterados, estão associados a etapas específicas do desenvolvimento neoplásico. Esta relação de especificidade tem resultado, finalmente, na adoção de algumas destas moléculas como marcadores biológicos de aplicação clínica para o diagnóstico, prognóstico e estabelecimento de estratégias terapêuticas.

Apesar da valiosa contribuição destes estudos, é necessário ressaltar que mesmo para as neoplasias mais estudadas, não foi possível, ainda, identificar mutações específicas que possam ser consideradas como necessárias e suficientes para a progressão da doença. A visão de que a simples identificação de mutações específicas e do papel que os seus produtos protéicos alterados desempenham em rotas metabólicas que levam a fenótipos específicos, é baseada em uma noção de especificidade que não leva em consideração o contexto das interações e nem a história desenvolvimental da célula alvo.

A grande maioria dos estudos sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento do câncer é baseada na formulação de perguntas que reduzem a complexidade do processo a um problema celular. A célula é vista como uma entidade quase independente e governada pelos seus genes. Esta abordagem reducionista levanta uma série de questões paradoxais que não poderão ser respondidas, exceto pela adoção de uma perspectiva organicista, isto é, pela compreensão de que as informações obtidas nas pesquisas científicas, especialmente aquelas de natureza quantitativa, devem ser analisadas considerando o organismo, bem como os seus órgãos, tecidos e células como unidades integrativas, e portanto, sujeitas a controles nos diferentes níveis de organização biológica.

Nesta apresentação pretendemos discutir as principais inconsistências encontradas entre os estudos empíricos e a teoria que explica as bases genéticas do câncer, a Teoria da Mutação Somática, vigente há décadas, e amplamente divulgada em publicações científicas e nos livros didáticos. Para tanto, conceitos como níveis hierárquicos de organização biológica, emergência, determinismo e causalidade serão considerados na tentativa de propor novas abordagens que possam explicar o desenvolvimento do câncer.

Para ler mais:
ALBERTS, B  et al. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed. 5a Ed., 2010.
DUESBERG, P. Caos cromossômico e câncer. Scientific American, pág. 60-67, 2007.
EL-HANI, C.N., QUEIROZ, J. Downward determination. Abstracta, 1(2): 162–192, 2005.
PLANKAR, M. et al. On the origin of cancer: Can we ignore coherence? Progress in Biophysycs and Molecular Biology, 106: 380-390, 2011.
ROSSLENBROICH, B. Outline of a concept for organismic systems biology. Seminars in Cancer Biology, 21:156-164, 2011.
SOTO, A.M, SONNENSCHEIN, C. Emergentism as a default: Cancer as a problem of tissue organization. Journal of Bioscience, 30(1): 103-118, 2005.
SONNENSCHEIN, C., SOTO, A.M. Theories of carcinogenesis: An emerging perspective. Seminars in Cancer Biology, 18: 327-377, 2008.

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