Café Científico Salvador discute uma nova e revolucionária perspectiva sobre o câncer.
Café Científico Salvador - 26/10/2012 - 18:00
Local: Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Biblioteca dos Barris), Rua General Labatut, 27, Barris, Salvador-BA.
O desenvolvimento do câncer considerado sob uma perspectiva organicista
Susie Vieira de Oliveira (Depto. de Ciências Biológicas, UEFS)
Café Científico Salvador - 26/10/2012 - 18:00
Local: Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Biblioteca dos Barris), Rua General Labatut, 27, Barris, Salvador-BA.
O desenvolvimento do câncer considerado sob uma perspectiva organicista
Susie Vieira de Oliveira (Depto. de Ciências Biológicas, UEFS)
O câncer tem sido, talvez, a
patologia mais extensivamente estudada nas últimas décadas, tanto devido à
natureza da sua complexidade, quanto por representar um grave problema de saúde
pública para as sociedades contemporâneas. Trata-se de um processo
multifatorial, que se desenvolve em etapas múltiplas e que é caracterizado,
principalmente, por alterações no controle da proliferação e diferenciação
celulares.
A descoberta dos oncogenes e dos
genes supressores de tumor como entidades envolvidas na regulação dos processos
de crescimento, diferenciação e morte celulares, promoveu uma explosão de
investigações centralizadas na identificação de genes, dos seus produtos
protéicos e das rotas metabólicas relacionadas. Estes esforços culminaram na
produção de uma lista numerosa de genes/proteínas que, em seus estados
alterados, estão associados a etapas específicas do desenvolvimento neoplásico.
Esta relação de especificidade tem resultado, finalmente, na adoção de algumas
destas moléculas como marcadores biológicos de aplicação clínica para o
diagnóstico, prognóstico e estabelecimento de estratégias terapêuticas.
Apesar da valiosa contribuição
destes estudos, é necessário ressaltar que mesmo para as neoplasias mais
estudadas, não foi possível, ainda, identificar mutações específicas que possam
ser consideradas como necessárias e suficientes para a progressão da doença. A
visão de que a simples identificação de mutações específicas e do papel que os
seus produtos protéicos alterados desempenham em rotas metabólicas que levam a
fenótipos específicos, é baseada em uma noção de especificidade que não leva em
consideração o contexto das interações e nem a história desenvolvimental da
célula alvo.
A grande maioria dos estudos
sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento do câncer é baseada na
formulação de perguntas que reduzem a complexidade do processo a um problema
celular. A célula é vista como uma entidade quase independente e governada
pelos seus genes. Esta abordagem reducionista levanta uma série de questões
paradoxais que não poderão ser respondidas, exceto pela adoção de uma
perspectiva organicista, isto é, pela compreensão de que as informações obtidas
nas pesquisas científicas, especialmente aquelas de natureza quantitativa,
devem ser analisadas considerando o organismo, bem como os seus órgãos, tecidos
e células como unidades integrativas, e portanto, sujeitas a controles nos
diferentes níveis de organização biológica.
Nesta apresentação pretendemos
discutir as principais inconsistências encontradas entre os estudos empíricos e
a teoria que explica as bases genéticas do câncer, a Teoria da Mutação
Somática, vigente há décadas, e amplamente divulgada em publicações científicas
e nos livros didáticos. Para tanto, conceitos como níveis hierárquicos de
organização biológica, emergência, determinismo e causalidade serão
considerados na tentativa de propor novas abordagens que possam explicar o
desenvolvimento do câncer.
Para ler mais:
ALBERTS, B et al. Biologia molecular da célula. Porto
Alegre: Artmed. 5a Ed., 2010.
DUESBERG, P. Caos cromossômico e
câncer. Scientific American, pág. 60-67, 2007.
EL-HANI, C.N., QUEIROZ, J. Downward
determination. Abstracta, 1(2): 162–192, 2005.
PLANKAR, M. et al. On the origin of cancer: Can
we ignore coherence? Progress in Biophysycs and Molecular Biology, 106:
380-390, 2011.
ROSSLENBROICH, B. Outline of a concept for
organismic systems biology. Seminars in Cancer Biology, 21:156-164, 2011.
SOTO, A.M, SONNENSCHEIN, C. Emergentism as a
default: Cancer as a problem of tissue organization. Journal of
Bioscience, 30(1): 103-118, 2005.
SONNENSCHEIN, C., SOTO, A.M. Theories of
carcinogenesis: An emerging perspective. Seminars in Cancer Biology, 18:
327-377, 2008.
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