Thursday, September 27, 2007

Resumo da apresentação do dia 08/10/2007

Comportamento de primatas não-humanos e comportamento humano: Entendendo semelhanças para compreender melhor as diferenças.

Por Charbel Niño El-Hani do Instituto de Biologia da UFBa

Quando tentamos compreender a natureza e origem da espécie humana, dois erros são fatais: primeiro, a idéia de uma descontinuidade completa, como se houvesse um abismo entre nossa espécie e os demais animais. O pensamento evolutivo é a base de todo o conhecimento biológico, a tal ponto que alguém que não pensa evolutivamente ou não aceita a evolução não tem como dizer que conhece biologia ou pensa biologicamente. Entre as teorias da evolução propostas ao longo da história da biologia, as teorias darwinistas são as que têm gozado de maior aceitação entre os cientistas desde a metade do século XIX. De uma perspectiva evolucionista, as espécies estão relacionadas por laços de parentesco ao longo da história da vida na Terra e uma parte significativa de suas características – mas não todas – são produtos de processos graduais de transformação. Assim, não há por que esperarmos que não existam importantes semelhanças – e, logo, continuidades – entre nossas características e as de nossos parentes mais próximos, em particular, chimpanzés, bonobos, gorilas e orangutangos. Não há também fundamentos, sejam teóricos ou empíricos, para sustentar que nossas características tenham surgido de uma só tacada em nossa espécie, Homo sapiens. A maioria da evolução das características que consideramos mais próprias de nossa espécie ocorreu, na verdade, em espécies anteriores à nossa e ao longo de milhões de anos. Parte da aparente descontinuidade que as pessoas imaginam ver entre nossa espécie e os outros animais resulta de não termos espécies de nosso mesmo gênero convivendo conosco, nem espécies de outros gêneros que fizeram parte da história de nosso clado, como os Australopithecus, Kenyanthropus, Paranthropus, Ardipithecus, Sahelanthropus, entre outros. Um segundo erro, contudo, seria postular uma completa continuidade entre nossa espécie e as demais espécies. Como qualquer espécie de animal, nós temos características que nos são próprias, entre elas, uma evidente diferença no grau em que exibimos características como a comunicação simbólica e a produção de cultura (a ponto de podermos dizer que produzimos uma hipercultura). Parece-me, assim, essencial construirmos uma visão da evolução da espécie humana que combine continuidade e descontinuidade, elucidando como mudanças contínuas, graduais em características de nossos ancestrais resultaram na emergência de novidades qualitativas em nossa espécie, ou seja, mudanças em nossas características que chegaram a alterar nosso modo de evolução. Afinal, é largamente reconhecido que nossa espécie tem se transformado principalmente por um processo de evolução cultural, pelo menos desde a invenção da agricultura. Para construir este retrato mais adequado da evolução humana, devemos deixar de lado a eleição de características que supostamente nos separariam dos demais animais, mas que não sobrevivem a um escrutínio mais cuidadoso do que sabemos sobre eles. Houve época em que se pensava que nós éramos o único animal que produzia ferramentas. Nós não somos. Já se pensou que nós éramos os únicos animais que exibiam comportamento social complexo. Nós também não somos. Ainda hoje, há autores que sustentam que somente nós exibimos comunicação simbólica. Há evidências convincentes de que este não é o caso e as características de nossa linguagem que a diferenciam da linguagem de outros animais dizem respeito mais a questões de grau do que de gênero. É fundamental entender nossas semelhanças para que possamos compreender nossas diferenças em relação a outros animais. Somente assim poderemos construir não somente uma compreensão mais apropriada de nossa natureza, mas também da história evolutiva contingente que resultou em nossa espécie. Exploraremos nessa conversa várias semelhanças que exibimos com outros animais, em particular, com os chimpanzés, mas também mencionando bonobos, gorilas e orangutangos. Veremos como chimpanzés têm sido produtores de ferramentas desde pelo menos 4.300 anos atrás, como eles caçam grandes mamíferos cooperativamente e com divisão de trabalho, como eles se reconhecem no espelho (um teste para desenvolvimento normal da consciência em crianças humanas), como eles lançam campanhas de guerra contra comunidades vizinhas (e exibem, assim, uma triste característica em que nós somos pródigos, matar nossos co-específicos), apresentam comunicação referencial e funcional (possivelmente, simbólica) e são, como nós, animais produtores de cultura.
Próximo Evento

08/10/2007 – 18 horas

Professor Charbel Niño El-Hani do Instituto de Biologia da UFBa - Comportamento de primatas não-humanos e comportamento humano: Entendendo semelhanças para compreender melhor as diferenças.
O Café Científico acontece sempre na segunda semana de cada mês, nas segundas-feiras, a partir das 18 horas, na sede da Livraria Multicampi LDM, Piedade, Centro. A participação no Café é inteiramente gratuita.
Resumos - Café Científico na Semana de Ciência e Tecnologia

- 1 de outubro de 2007 – 17 horas
Asher Kiperstok (UFBA) - Mudanças tecnológicas e comportamentais para a sustentabilidade ambiental: seremos capazes?

Discutiremos o conceito de sustentabilidade ambiental da forma como é divulgado, procurando definir o nível de mudança necessário para que este possa ser atingido. Uma rápida reflexão sobre o crescimento do padrão de consumo atual nos leva
a conclusão que mudanças tanto comportamentais como tecnológicas radicais são necessárias para se pensar em sustentabilidade, mudanças que vão muito além dos clichês atualmente aceitos. Para se construir caminhos no sentido da sustentabilidade, nos apoiamos nos conceitos de produção limpa e ecologia industrial, no plano tecnológico e na proposta das "comunidades criativas" de Ezio Manzini para o plano comportamental.


- 3 de outubro de 2007 – 17 horas
Emerson Sales (UFBA) - Panorama ambiental global, consumo consciente e tecnologias limpas.

O planeta Terra vem sofrendo contínuas alterações em seus ciclos vitais, causadas pela ação (agressão) do homem, num modelo de sociedade que o enxerga apenas como fonte de insumos. Em função da gravidade dos danos já causados, a humanidade enfrentará tempos muito difíceis, caso medidas drásticas não sejam tomadas imediatamente, em todos os níveis e instâncias da sociedade. Hoje, cada indivíduo é convidado a refletir sobre o impacto ambiental do seu modo de vida, sobre a responsabilidade de cada ato seu, e as conseqüências para as futuras gerações. Torna-se imperativa a racionalização do uso de todos os recursos naturais e insumos em geral, incorporando o conceito de consumo consciente e as técnicas de produção mais limpa, e apoiando projetos e atividades relacionadas com o desenvolvimento sustentável. O planeta está exigindo um novo ser humano, mais participante, atento e solidário, que consiga desfrutar de todo o progresso que conquistou, mas causando menos impacto ao sistema Terra. Sabe-se que o planeta tem seus ciclos naturais, e nunca se pode garantir a continuidade de nenhuma espécie, mas pode-se ter a responsabilidade de evitar que fatores antrópicos continuem a interferir tanto no equilíbrio deste planeta, e precipitem o fim das várias espécies, inclusive a humana.


- 4 de outubro de 2007 – 17 horas.
Leandro Nunes de Castro (UNISANTOS) - Computação Natural: A Computação no Novo Milênio.

No final do século XVIII e início do século XIX, o mundo testemunhou a revolução industrial como um marco da história social humana. As economias baseadas em trabalho braçal começaram a ser substituídas por economias baseadas em produção através de máquinas e processos industriais. Já o século XX foi marcado por grandes avanços científicos e tecnológicos, pela invenção e desenvolvimento dos computadores e por descobertas sem precedentes nas ciências biológicas. Para o século XXI, que também marca a virada do milênio, a computação passará por diversas transformações, sendo que uma das novas tendências do milênio é a Computação Natural. Esta palestra apresentará uma caricatura ilustrada da computação natural, destacando algumas de suas principais aplicações práticas e perspectivas de pesquisa e desenvolvimento.


- 5 de outubro de 2007 – 18 horas.
Ângelo Loula (UEFS) - Jogos eletrônicos inteligentes e robôs inteligentes.

Jogos eletrônicos e robótica são dois desafios para pesquisas científicas e aplicações tecnológicas provindos da área de Inteligência Artificial. Considerada como o futuro dos jogos eletrônicos, a Inteligência Artificial oferece possibilidades pouco exploradas nesta área, cujo mercado movimentou mais de U$ 7 bilhões em 2005, somente nos EUA. Tanto jogos de entretenimento como jogos educativos podem ser aprimorados com a utilização de técnicas avançadas de Inteligência Artificial, particularmente em jogos que envolvem personagens (oponentes, aliados ou mesmo figurantes) não controlados pelo jogador humano, em jogos de primeira/terceira-pessoa ou mesmo em jogos de simulação. Também na área de robótica encontramos importante contribuição na aplicação da Inteligência Artificial, frente às perspectivas do setor, em especial ligada à robótica autônoma. O mercado de robótica, que movimenta U$ 11 bilhões anualmente com previsão de duplicação deste valor em 2011, é tradicionalmente ligado à área industrial, mas aponta direções para o desenvolvimento de aplicações não industriais e popularização desta tecnologia que deverá ser vista em ambiente doméstico, educacional, de entretenimento, de saúde, e de transportes. Uma competição organizada pelo Departamento de Defesa americano envolvendo veículos terrestres autônomos (sem condutor ou controle remoto) oferece, em sua atual terceira edição, prêmios totalizando 3,5 milhões de dólares. Outras competições também têm objetivado o desenvolvimento tecnológico em robótica autônoma, como o Sumô de Robôs e o Futebol de Robôs, que coloca o desafio de, em 2050, ter um time de 'robôs humanóides totalmente autônomos' capazes de ganhar do time humano campeão mundial de futebol.
Café Científico na Semana de Ciência e Tecnologia

O Café científico promoverá uma série de palestras na Semana de Ciência e Tecnologia, que ocorrerá de 1 a 7 de outubro de 2007, por convite da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) do Estado da Bahia. As palestras ocorrerão no Auditório do Palácio Rio Branco, na Praça Thomé de Souza (próximo ao Elevador Lacerda), s/n, nas seguintes datas e horários:

- 1 de outubro de 2007 – 17 horas
Asher Kiperstok (UFBA) - Mudanças tecnológicas e comportamentais para a sustentabilidade ambiental: seremos capazes?

- 3 de outubro de 2007 – 17 horas
Emerson Sales (UFBA) - Panorama ambiental global, consumo consciente e tecnologias limpas.

- 4 de outubro de 2007 – 17 horas.
Leandro Nunes de Castro (UNISANTOS) - Computação Natural: A Computação no Novo Milênio.

- 5 de outubro de 2007 – 18 horas.
Ângelo Loula (UEFS) - Jogos eletrônicos inteligentes e robôs inteligentes

Lembramos que o Café Científico é um local em que qualquer pessoa pode discutir desenvolvimentos recentes das várias ciências e seus impactos sociais. Ele oferece uma oportunidade para que cientistas e o público em geral se encontrem face a face para discutir questões científicas, numa atmosfera agradável. O evento é inteiramente gratuito e não necessita de inscrição.

Thursday, September 06, 2007

Café Científico Salvador comemora um ano
um ano contribuindo com a popularização da ciência na capital baiana

por Débora Alcântara

Na próxima segunda-feira (10), o Café Científico Salvador comemora o primeiro ano de existência. Desta vez, o médico e professor da Faculdade de Medicina da Ufba, Luiz Erlon Rodrigues, será o palestrante. Ele falará de verdades e mitos sobre o uso de vitaminas como drogas terapêuticas.
Desde setembro do ano passado, o evento vem contribuindo com a popularização da ciência, levando a um público heterogêneo, num clima descontraído, o que é tratado no espaço acadêmico. O evento é uma iniciativa do programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências das Universidades Federal e Estadual da Bahia (Ufba e Uefs) e da Livraria Multicampi LDM.
O Café Científico Salvador faz parte do padrão
Café Scientifique, uma rede mundial, que já conta com quase duas centenas de cafés espalhados pelo mundo. Surgido em 1998, em Leeds, Inglaterra, o evento tem o propósito de ofertar a diversos segmentos sociais a possibilidade de conhecer e discutir desenvolvimentos recentes das várias ciências e seus impactos na sociedade. Salvador é uma das quatro cidades brasileiras onde acontece uma forma de divulgação científica diferente dos padrões da academia. Além da capital baiana, o Café Científico também é praticado no Rio de Janeiro, Porto Alegre e, a partir deste mês, em Florianópolis.
“Temos tido o privilégio de ver nosso Café contribuir para uma visão socialmente mais compromissada da pesquisa que fazemos”, disse o coordenador do Café Científico Salvador, doutor em Educação pela USP e professor da Ufba, Charbel El-Hani. O evento, segundo o professor, consegue desfazer a imagem estereotipada do cientista como um ser distante da sociedade e até mesmo da realidade. “Acreditamos que nossa audiência tem tido a oportunidade de ver os cientistas como gente de carne e osso, e isso é essencial para uma imagem adequada da ciência”, ressaltou.
No evento, a regra para os cientistas palestrantes é falar de modo acessível à platéia, formada de estudantes de ensino médio a idosos e profissionais liberais. A experiência em Salvador vem se destacando pela participação interativa do público, de onde surgem diversos questionamentos e até mesmo provocações.
O dono da filial LDM em Salvador, Primo Maldonado destaca o caráter “proativo” do evento, que consegue congregar cientistas, clientes e escritores “num processo de desmistificação da ciência”. A cada edição do Café, um estande é montado para amostra de livros referentes ao tema tratado. Muitos dos títulos divulgados fazem parte da produção acadêmica baiana.

O Café Científico acontece sempre na segunda semana de cada mês, nas segundas-feiras, a partir das 18 horas, na sede da Livraria Multicampi LDM, Piedade, Centro. A participação no Café é inteiramente gratuita.