Thursday, November 20, 2014

NESTE MÊS DE NOVEMBRO, O CAFÉ CIENTÍFICO SALVADOR DISCUTE AS LIÇÕES QUE PODEMOS DERIVAR DE EXPERIÊNCIAS DE CONVIVÊNCIA COM A SECA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO PARA NOSSA FUTURA ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

O QUE?
CAFÉ CIENTÍFICO SALVADOR – CONVIVÊNCIA COM A SECA, E O QUE PODEMOS APRENDER PARA A ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: EXPERIÊNCIAS DO PROJETO MATA BRANCA

QUANDO?
21 DE NOVEMBRO DE 2014

A QUE HORAS? 18 HORAS

ONDE? 
SALA LUIZ ORLANDO, BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA (BIBLIOTECA DOS BARRIS), RUA GENERAL LABATUT, 27, BARRIS, SALVADOR-BA

Convivência com a seca, e o que podemos aprender para a adaptação às mudanças climáticas: Experiências do Projeto Mata Branca

Martin Obermaier
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, COPPE/UFRJ


Resumo

Muito se fala hoje sobre o acontecimento da mudança climática, e seus possíveis impactos – frequentemente desastrosos – sobre o homem e a natureza. O IPCC – principal órgão científico para o avanço do conhecimento sobre a ciência da mudança climática, incluindo medidas mitigatórias e protetoras contra potenciais impactos negativos – considera agora como provável que as interferências humanas no sistema climático elevarão as temperaturas médias globais terrestres entre 2016 e 2035 em +0.3°C a +0.7°C; e em +0.7°C a +4.8°C até o final deste século. Para regiões caraterizadas por climas semiáridos ou áridos, como é o caso da Caatinga, as recentes projeções preveem também consideráveis reduções nos níveis de precipitação (–40 a –50%) e uma maior variabilidade climática, ou seja, uma crescente concentração das chuvas em poucos meses, contribuindo potencialmente para secas mais fortes ou para o processo da desertificação.
Não há dúvida de que a mudança do clima poderá causar fortes consequências para o semiárido nordestino, principalmente no meio rural onde a renda dos pequenos produtores depende muito das condições climáticas e da saúde do meio ambiente. Mas no mesmo tempo em que temos estas perspectivas bastante pessimistas, sabemos também que há um enorme conhecimento acumulado em práticas sustentáveis aplicadas que ajudam os agricultores familiares a sustentarem as suas famílias e protegerem a Caatinga no mesmo tempo – seja pela prática de fundo de pasto, construção de cisternas de placa, uso de hortas comunitárias, aplicação de adubo orgânico, ou melhorando a governança via cooperativismo ou associativismo. Instituições regionais e locais promovem este processo, que também é chamado de convivência com o semiárido, baseado na afirmação de que é (1) possível conviver – em vez de combater – com as características naturais e climáticas da Caatinga; e (2) que a riqueza sociocultural e biológica precisa de proteção para garantir a sobrevivência do povo rural.
Existe aqui uma conexão entre a lógica da convivência e a necessidade de se adaptar à mudança climática; ao final, os dois conceitos pretendem responder à questão da melhor maneira de lidar com condições climáticas adversas, ao mesmo tempo promovendo o desenvolvimento sustentável. Mas enquanto os impactos piores da mudança climática são projetados para o futuro distante – aproximadamente a partir dos anos 2040-50 para frente – a seca e as consequências dela têm um histórico, e são de relevância iminente: desde 2010 a região semiárida do Nordeste está sendo atingido por uma das piores secas do passado, afetando cerca de 10.6 milhões de pessoas. Neste contexto, gastos em ações emergenciais e estruturantes têm ultrapassado R$ 12 bilhões desde 2012.
O objetivo desta palestra é discutir o que podemos aprender desta convivência com a seca para uma futura adaptação às mudanças climáticas. A discussão é baseada nas experiências do Projeto Mata Branca – iniciado em 2007 –, que apoiou até agora 132 subprojetos nos Estados da Bahia e do Ceará com foco em arranjos produtivos locais sustentáveis e medidas de conservação, relacionando-as com o empoderamento de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas, revitalização de padrões culturais da Caatinga e promoção de igualdade de gênero.

Indicações de leitura:
Conceitos chaves: vulnerabilidade de impacto versus vulnerabilidade social, e mudança climática
Obermaier, M., Rosa, L.P., 2013. Mudança climática e adaptação no Brasil: uma análise crítica. Estudos Avançados 27, 155–176.

Estadão, 2014. IPCC: Como as mudanças climáticas afetarão o Planeta [WWW Document] URL http://topicos.estadao.com.br/ipcc (acessado 11.5.14).

Segurança alimentar e mudanças climáticas
Obermaier, M., Martins, R.D., Antoniazzi, L.B., Lemos, M.C., Herrera, S., 2014. Contextualização da relação entre Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e adaptação às mudanças climáticas: complexidade do tema e abordagens conceituais, Projeto Estado da Arte: Segurança Alimentar e Adaptação às Mudanças Climáticas. OXFAM, MMA, Salvador.

Pinto, H.S., Assad, E.D. (Orgs.), 2008. Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil. Embrapa, UNICAMP, São Paulo.

Sobre a convivência com o semiárido
FLEM, CAR, CONPAM, 2013. Projeto Mata Branca. [WWW Document] URL http://projetomatabranca.org.br/ (acessado 11.5.14). Resumo
Silva, R.M.A., 2007. Entre o combate à seca e a convivência com o semi-árido: políticas públicas e transição paradigmática. Revista Econômica do Nordeste 38, 466–485.

Outros estudos
Silva, H.V.O., Silva, G.L., Obermaier, M., Paiva, J.J.J., Nascimento, G.F., Pires, S.H.M., La Rovere, E.L., 2013. Estudo Estratégico de Políticas Públicas em Área do Bioma Caatinga do Estado da Bahia - Sumário Executivo. CAR, Salvador.

Barbieri, A.F., Confalonieri, U.E.C., 2008. Mudanças Climáticas, Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste, 2000-2050. Cedeplar, LABES/FIOCRUZ.

Marengo, J.A., 2008. Água e mudanças climáticas. Estudos Avançados 22, 83–96.

Propostas para um planejamento de adaptação
Obermaier, M., Lemos, M.C., Martins, R.D., Torres, R.R., Lapola, D.M., 2014. Relatório final com propostas de medidas adaptativas, Projeto Estado da Arte: Segurança Alimentar e Adaptação às Mudanças Climáticas. OXFAM, MMA, Salvador.


COEP, 2011. Subsídios para a Elaboração do Plano Nacional de Adaptação aos Impactos Humanos das Mudanças Climáticas. Grupo de Trabalho Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade, Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Rio de Janeiro.