Sunday, January 31, 2010

Resumo Café - 01/02/2010

A constituição do método experimental no século XVIII: as experiências de Lazzaro Spallanzani sobre a reprodução de anfíbios

Maria Elice Brzezinski Prestes

IB/USP

O século XVIII testemunhou uma grande expansão dos estudos sobre os seres vivos na Europa. Egressos dos cursos universitários da época, como Medicina, Artes, Filosofia Natural ou Teologia, dedicaram-se a estudos específicos em áreas que se desenvolviam desde o Renascimento, como a Anatomia e a Botânica e Zoologia – estas últimas voltadas especialmente ao inventário, nomeação e classificação dos organismos. Além disso, os então chamados “naturalistas” ou “filósofos naturais” também aprofundaram conhecimentos sobre a recém descoberta vida microscópica, bem como sobre o funcionamento dos seres vivos. Em torno a este último tema, encontramos o desenvolvimento do método experimental, talvez o menos conhecido da história da biologia daquele século.

Desde as últimas décadas do século XVII e ao longo do século XVIII houve um aumento bastante importante no número de naturalistas dedicados aos estudos fisiológicos das diferentes espécies, seja de plantas, seja de animais, incluindo os corpos vivos microscópicos. Desenvolveu-se ali, portanto, uma fisiologia que não é a fisiologia humana, intimamente relacionada à Medicina, como aquela que consagrou o método experimental de Claude Bernard em meados do século XIX.

Nesta apresentação, discutiremos a constituição do método de pesquisa utilizado nessas investigações sobre funções vitais de plantas, animais e corpos microscópicos. Identificaremos componentes que foram sendo selecionados e validados pela comunidade de filósofos naturais ocupados em promover a “interrogação à natureza”. A então chamada “arte de observar e fazer experiências” será exemplificada em estudos sobre a reprodução de anfíbios realizados por um dos expoentes dessa tradição, o padre naturalista italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799).

Leituras recomendadas:

Alfonso-Goldfarb, A. M. et al. O saber fazer e seus muitos saberes: experimentos, experiências e experimentações. São Paulo: Editora e Livraria da Física / Educ, 2006.

Filosofia e História da Biologia, volumes 1, 2 e 3. São Paulo: ABFHiB, 2006, 2007 e 2008.

Russo, Marisa e Caponi, Sandra. Estudos de filosofia e história das ciências biomédicas. São Paulo: Discurso Editorial, 2006.

Saturday, January 30, 2010

Próximo Café - 1 de fevereiro de 2010 – 18:30

Mesa redonda: A dimensão histórica e filosófica da biologia.

Maria Elice Brzezinski Prestes (Instituto de Biociência, USP): A constituição do método experimental no século XVIII.

Gustavo Caponi (Dept. de Filosofia, UFSC): O transformismo de Buffon.

Wednesday, January 06, 2010

Próximo Café 11 de janeiro de 2010 – 18:30

Mente, Corpo e o Lugar da Cultura na Biologia

por Hilton Japyassú (Instituto de Biologia, UFBA)

Resumo Café - 14/12/2009

50 anos da descoberta da trissomia 21 como causa da síndrome de down: o que pode ainda ser pesquisado?

Lilia Maria de Azevedo Moreira - Geneticista, Instituto de Biologia - UFBA

O início do estudo científico da Síndrome de Down (SD) data do século XIX, com os trabalhos de Esquirol (1838), Segun (1846), Langdon Down (1866) e Fraser e Michel (1876). O farmacêutico e médico inglês John Langdon Down teve o mérito de publicar no seu artigo as características principais da síndrome e também, seguindo as tendências científicas da época, propor uma classificação étnica da deficiência intelectual, de acordo com uma retrogressão racial. Daí a denominação “mongolóide”, que caiu em desuso depois da década de 70, sendo suprimida dos periódicos científicos e substituída pela designação Síndrome de Down. Em 1956 foi conhecido o número correto de cromossomos humanos e em 1959, exatamente há 50 anos, publicado o trabalho seminal do pesquisador francês Jerome Lejeune, estabelecendo a causa da Síndrome de Down pelo excesso de material genético do cromossomo 21. O grande legado do Prof. Lejeune foi ter identificado a origem cromossômica da síndrome de Down o que levou ao esclarecimento de diversos aspectos biomédicos relacionados a esta síndrome e a outros numerosos distúrbios hereditários. O desenvolvimento metodológico nesta área de pesquisa permitiu a realização do diagnóstico pré-natal, atualmente de uso rotineiro, embora limitado por aspectos éticos e econômicos, assim como a delimitação de região genética no cromossomo 21, presumidamente crucial para a manifestação de sinais e sintomas da síndrome como cardiopatia congênita, deficiência intelectual e o envelhecimento precoce. A comparação do seqüênciamento do genoma de ratos com o humano, com o reconhecimento de regiões sintênicas entre o 21 humano e os cromossomos 16,17 e 10 dos animais, levou ao estudo das manifestações SD em modelos animais, que não obstante a sua grande contribuição, apresenta limites na aplicação dos conhecimentos obtidos. Estudos refinados associando metodologias da citogenética com a genômica têm confirmado a participação de genes como o APP (proteína beta amilóide) na manifestação dos sintomas de envelhecimento precoce que ocorre em torno de 43% das pessoas com a síndrome na faixa dos 50 anos. Moreira, Gusmão e El-Hani (2000) observam que “não obstante a SD ser uma condição claramente genética, uma explicação gene - cêntrica não dá conta de todos os seus aspectos”. Há ainda muitas questões científicas na genética da SD ainda não resolvidas, mas o avanço destes estudos tem sido acompanhado de mudanças atitudinais e medidas eficientes de tratamento médico, atualmente proporcionando à pessoa com a síndrome de Down uma vida melhor e mais longa.


Leituras recomendadas

Cunningham,C. Síndrome de Down: Uma introdução para pais e cuidadores,3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Moreira, LMA. O nascituro à luz da genética, em Duarte, G, Fontes, JAS. O nascituro: Visão Interdisciplinar, São Paulo: Atheneu, 2009

Moreira, LMA; El-Hani, CN; Gusmão, FA. A síndrome de Down e sua patogênese: considerações sobre o determinismo genético, Rev Bras Psiquiatria v.22,n.2,p. 96-99, 2000

Moreira, LMA; Gusmão,FA. Aspectos genéticos e sociais da sexualidade em pessoas com síndrome de Down, Rev.Bras. Psiquiatria, v.24,n.2,p.94-99,2002

Pueschel,S. Síndrome de Down: Guia para pais e educadores, Campinas,SP: Papirus, 1993

Schwartzman, JS. Síndrome de Down. 2.ed.,São Paulo: Memnon,2003

Próximo Café 14 de Dezembro de 2009 – 18:30

50 anos da descoberta da trissomia 21 como causa da síndrome de down: o que pode ainda ser pesquisado?

por Lília Maria de Azevedo Moreira (IB-UFBA)