Monday, January 05, 2009

Resumo da apresentação do dia 12/01/2009

A crise mundial, seus efeitos sobre o Brasil e nossa capacidade de resposta

por Osmar Sepúlveda (Faculdade de Ciências Econômicas, UFBA)

A crise financeira mundial que eclodiu em 15 de setembro de 2008 teve origem nos Estados Unidos da América, com a insolvência de várias instituições financeiras em Wall Street: Lehman Brothers; Merril Lynch e a Seguradora AIG foram as primeiras a pedir ajuda a quem pudesse ajudar. O Estado Norte-Americano se recusou a ajudar. O FED – Federal Reserve System, que exerce nos EEUU o papel de Banco Central, já havia, em julho de 2007, gasto bilhões de dólares para resgatar a carteira Bear Stearns comprada pelo JP Morgan Chase (com recursos do FED) a na estatização das Agências Fannie Mae e Freddie Mac, duas das maiores agências norte-americanas de crédito hipotecário (segundo dizem, carregadas de títulos da China), retardando a crise para 2008.

Na verdade, a gênese da crise está ligada à desregulamentação dos mercados, permitindo ao mercado financeiro auto-gerenciar seus negócios, sem as peias impostas pelos estados nacionais, que foram criadas após a crise de 1929. Sem fiscalização e monitoramento dos Bancos Centrais, os agentes econômicos ficaram livres para criar ativos financeiros muitas vezes maiores do que os ativos reais que lhes davam sustentação, através da emissão de títulos “derivativos”. Basta ver que os referidos ativos financeiros (equivalentes a 167 trilhões de dólares) representavam aproximadamente 3,5 vezes o PIB mundial de 48,3 trilhões de dólares em janeiro de 2008 (conforme Mckinsey Global Institute).

A crise poderia se limitar aos países centrais do capitalismo (EEUU, Inglaterra, Europa do Euro, Japão), não fosse o processo de globalização dos mercados de bens e serviços. É a globalização que provoca uma comunicação entre a economia real e o seu financiamento através da globalização do mercado financeiro. Todos os países, capitalistas ou não, que tiverem suas economias financiadas pela poupança mundial, terão que ser afetados direta ou indiretamente pelos efeitos da crise.

Um dos países menos afetados diretamente pela crise é o Brasil. Além disso, por características políticas próprias, nosso país é um dos mais preparados para suportar os efeitos da crise. Essas características podem ser resumidas da seguinte forma: 1) a economia brasileira não está totalmente desestatizada (afortunadamente); 2) nosso sistema bancário privado não arrisca, especula com títulos públicos (nós pagamos impostos e eles recebem extraordinárias transferências do estado por meio da política de taxas de juros elevada); 3) o Brasil tem um comércio internacional multilateral, não dependendo de qualquer país isoladamente (principalmente dos EEUU) e sua pauta de exportação é baseada em commodities tanto agrícolas como industriais; 4) sua dívida externa é de pequena monta (comparada com seu PIB), está internalizada, e suas reservas cambiais são elevadas quando comparadas com seu comércio internacional; 5) os instrumentos de política fiscal e monetária oferecem folgas: receita pública elevada, gastos correntes concentrados no custo financeiro da dívida – basta reduzir a elevadíssima taxa de juros para recuperar a capacidade de investimento do estado –, inflação controlada pelas importações e taxa de câmbio próximo do equilíbrio macroeconômico; 6) por fim, e não menos importante, um grande mercado interno, abandonado pela política neoliberal, que pode ser dinamizado com política fiscal e monetária independente.

Sugestão de leituras:

Pinheiro, Márcia. O novo socialismo: finanças, o Tesouro Americano entra em cena para salvar Wall Street. Carta Capital. São Paulo. Ano XV. Nº. 514, p. 26-30, setembro 2008.

Belluzzo, Luiz Gonzaga. O problema está aqui. A sucessão de bancarrotas demoliu a presunção do mundo ocidental. Carta Capital. São Paulo. Ano XV. Nº. 514, p. 32-40, setembro 2008.

________. O incansável Molock. Ideologia. Os detentores da riqueza não escapam da euforia que culmina em crise. Carta Capital. São Paulo. Ano XV. Nº. 518, p. 36-38, outubro 2008.

Netto, Delfim. Repetição do Mesmo. Carta Capital. São Paulo. Ano XV. Nº. 518, p. 39, outubro 2008.

Klein, Naomi. Mercado livre. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 de setembro de 2008. Suplemento Mais; p.4.

Folha de São Paulo. De que são feitas as crises. Folha de São Paulo, 28 de setembro de 2008. Suplemento Mais; p.5.

Gresh, Alain. A marcha para a multipolaridade. Le Monde diplomatic Brasil. São Paulo. Ano 2 – Nº. 16, p. 12-13, novembro de 2008.

Bulard, Martine. Uma nova geopolítica dos capitais. Le Monde diplomatic Brasil. São Paulo. Ano 2 – Nº. 16, p. 10-11, novembro de 2008.

Hobsbawm, Eric. El declive del imperio norteamericano. Le Monde diplomatic en español. Valencia. Ano XIII, nº. 157, p. 10, novembro de 2008.

Galbraith, John. Kenneth. 1929 o colapso da Bolsa. São Paulo: Pioneira, 1988.
12 de janeiro de 2009 – 18:30

A crise mundial, seus efeitos sobre o Brasil e nossa capacidade de resposta

por Osmar Sepúlveda (Faculdade de Ciências Econômicas, UFBA)