Sunday, March 22, 2009

Resumo Café 23/03

Dengue: como avançar no controle desta doença?

por Maria Glória Teixeira (Instituto de Saúde Coletiva, UFBA)

A dengue, nos dias atuais, é uma das doenças transmitida por mosquito de maior importância para a Saúde Pública mundial. O seu vírus causador circula em quatro continentes e já atingiu mais de 100 países. Estimativas da OMS indicam que, anualmente, 50 milhões de pessoas são infectadas e cerca de 500.000 casos da Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) ocorrem com pelo menos 12.000 óbitos por esta causa.
No Brasil, desde 2006 que epidemias sucessivas de febre do dengue vêm sendo registradas e, a partir de 1990, dois sorotipos (DENV1 e DENV2) do vírus passaram a circular simultaneamente e casos de FHD foram diagnosticados. Em 2001, com a introdução do DENV3 no país, houve agravamento da situação. Entre janeiro daquele ano e dezembro de 2002 mais de 2700 casos de FHD foram notificados. A epidemia que eclodiu em 2008 no Rio de Janeiro, com milhares de casos hemorrágicos atingindo crianças e adultos, colocou em colapso a rede de atenção à saúde daquela cidade, com grande repercussão nacional e internacional. Esse foi um ano epidêmico cuja incidência atingiu patamares semelhante a de 2002, tendo o quantitativo de casos da Febre Hemorrágica do Dengue ultrapassado 4500 registros.
O estado da Bahia vem sendo acometido por dengue desde 1994 e, sua capital, Salvador, registrou a primeira epidemia logo no ano seguinte. Neste estado também circulam três sorotipos (DENV1,DENV2 e DENV3) e, a partir de 2002, principalmente, indivíduos também foram acometidos com FHD. Significativo aumento no número de casos no interior do estado, atingindo mais fortemente a região de Irecê, foi observado em 2008, e pequeno incremento no número de casos em Salvador. Logo no início de 2009, o município de Jequié foi atingindo por uma epidemia explosiva e a seguir mais seis municípios tiveram elevação de incidência, o que resultou em Decreto de estado de emergência em alguns municípios (Jequié, Itabuna, Ilhéus, Porto Seguro, Ipiaú e Irecê)

No que pese o avanço do conhecimento científico na área biomédica, tem-se constatado dificuldades no controle desta doença em todo o mundo, em função da inexistência de vacinas para uso em populações humanas e do controle estar centrado no combate ao seu vetor, o mosquito Aedes aegypti, único elo vulnerável da cadeia de transmissão do dengue. Apesar do dispêndio de recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) em ações de combate a este mosquito a situação epidemiológica do Brasil e da Bahia evidencia, claramente, que não vem se obtendo progressos na prevenção desta virose.
Diante destes fatos, cumprimento os organizadores do Café Científico pela iniciativa de trazer este tema para debate, por considerar da maior importância desvendar as razões das dificuldades institucionais, administrativas, políticas e científicas, para alcance de maior efetividade no combate ao dengue. Particularmente, pela necessidade de se implementar o componente de educação e mobilização social dos programas de controle da dengue, propósito que só será obtido com amplo debate e participação. Consideramos este componente peça chave da sustentabilidade e manutenção das ações de combate vetorial, que só são efetivas se forem contínuas, permanentes e capazes de promover modificações ambientais que tornem desfavoráveis a proliferação de um mosquito-vetor de hábitos antropofílicos, totalmente adaptado ao ambiente habitado pelo homem.
Os resultados de algumas avaliações concernentes às atividades e ações que vêm sendo desenvolvidas neste campo, no Brasil e em outros países, evidenciam claramente as dificuldades e limites das estratégias de educação, comunicação e mobilização que vêm sendo utilizadas. Entende-se que se faz necessário profundas mudanças nas abordagens que têm sido aplicadas, com vistas a superação das táticas campanhistas da antiga ‘polícia sanitária”. De acordo com as avaliações que vêm sendo conduzidas estas estratégias não têm obtido o efeito desejado, pois a maioria da população absorve os conhecimentos, ou seja, sabe onde o vetor coloca os ovos, que recipientes contendo água devem ser eliminados, da necessidade de colocar tampa nos depósitos que não podem ser eliminados, dentre outras informações. Contudo, estes conhecimentos não têm sido eficazes no sentido da indução de mudanças de práticas e comportamentos. Assim, os ambientes domésticos se mantêm receptivos à manutenção e proliferação do Aedes aegypti.
Deste modo, ao lado de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de produtos, inovações e invenções que venham a aprimorar as técnicas de controle desta doença pelos serviços de saúde, faz-se necessário a abertura de espaços de diálogo e conversação entre profissionais, agentes de saúde e população. Este diálogo deve ser direcionado para a busca de soluções para os problemas que impedem a redução da população de mosquitos, sendo fundamental para aportar novos enfoque e subsídios para o delineamento de novas estratégias de atuação capazes de modificar comportamentos e atitudes, individuais e coletivas, frente a este risco sobre a saúde humana.

Leitura Recomendada

Dengue: educação, comunicação e mobilização na Revista interface:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832008000200018&script=sci_arttext

Barreto, M. L. & Teixeira, M. G. 2008. Dengue no Brasil:Situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa. Estudos Avançados 22(64):53-72.

3 comments:

Flávia Silva Cunha said...
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Flávia Silva Cunha said...

Sim, essa discussão faz-se de extrema urgência. Mas uma pergunta fica no ar: Por que se extinguiu a passagem de carros "fumacê" nas ruas. Lembro-me bem que em situações passadas e bem semelhantes a essa, esse artifício foi de uma eficiência muito alta. Alguém sabe responder a essa minha questão?

Att,

Charbel El-Hani e Ana Carolina Sá said...

O "fumacê" é uma aspersão de inseticidas no meio ambiente e tem uma efetividade muito baixa, pois elimina apenasos mosquitos alados que estiverem voando naquele momento sob o alcance do inseticida. Ou seja, não tem nenhum poder residual para continuar diminuindo a quantidade de Aedes aegypti no meio ambiente. Essa população do mosquito que morre é rapidamente reposta pelas larvas e ovos que estão no meio ambiente.
Tecnicamente, no mundo inteiro, só se indica o uso do "fumacê" nas situações de epidemicas, ou de intensa transmissão localizada do vírus do dengue. Nâa se DEVE
ficar passando "fumacê"sem indicação técnica precisa.

Contudo, a população gosta do "fumacê" e solcita muito às autoridades de saúde, porque dá uma falsa impressão de que se fica protegido!

A medida realmente mais eficaz é a de eliminação dos focos deste mosquito (larvas e ovos) pelos agentes de saúde e, especialmente, nós (população) não deixar criadouros (latas com água, garrafas, copinhos, pneus, vasos de plantas, tanques descobertos, etc etc etc) nas nossas casas, quintais e jardins.


Glória Teixeira